"... e por amor a Cristo, o Bom Pastor, vou pastorear
outras ovelhas em outras paragens, cheias de “montanhas azuis”."
Com esta frase o Padre Daniel se apresenta para o povo da
cidade de Carmo da Cachoeira com uma feliz citação...
Ah, Pe. Godinho, quem diria que o senhor seria lembrado depois
de tanto tempo, de forma tão carinhosa e em um momento tão importante!
Padre Godinho, filho amado de Carmo da Cachoeira, era um
homem que sempre olhou pelo povo de sua cidade e ficamos felizes em saber que
nosso futuro pároco leu sua obra: "Todas as Montanhas são Azuis".
Carmo da Cachoeira tem sua bela paisagem formada por colinas
numa altitude de 1.000 metros e clima de montanha, um local onde a natureza se
ofertou para receber homens arrojados, desbravadores, e corajosos que muito
tenham a dar ao crescimento de sua gente. Foi aqui que Padre Godinho celebrou
sua primeira missa e, não se conformava que "a velha igreja barroca
erguida pelos escravos fora posta abaixo, a pretexto de que a taipa de pilão
começava ruir e as obras de talha estariam sendo consumidas pelo
cupim...", também não se conformava com a desigualdade social e econômica:
“... os negros eram livres sob o aspecto legal, mas sem acesso à escala social,
sem participação nos bens da cultura e relegados economicamente a funções e
atividades subalternas, não muito diversas das exercidas antes de 1888”.
Ao citar Padre Godinho talvez, Padre Daniel esteja nos dando
uma indicação de que devemos estar atentos à tradição, apropriar-se dela
amorosamente e transformá-la num processo persistente e contínuo. “Sacerdote,
homem nascido para alegrar e caminhar com seu povo.” (André Lucas de Carvalho).
A comunidade cachoeirense, representada aqui pelo CPP -
Conselho Pastoral Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Carmo da
Cachoeira, Minas Gerais, da Diocese da Campanha, saúdam com carinho,
fraternidade, respeito e muito expectativa, seu novo pastor.
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Reproduzimos aqui na integra a carta de despedida escrita
pelo pastor que ora recebemos em nossa comunidade para suas antigas ovelhas...
Minha gratidão a Três Corações!
Está chegando a hora de dizer o meu “adeus” à Paróquia
Sagrada Família de Três Corações, depois de sete anos junto desta Comunidade
Paroquial e de bom Povo de Deus que aqui aprendi a amar e a servir com amor e
dedicação. Aqui cheguei um jovem de 26 anos e saio hoje um Senhor de 33 anos.
Minha ligação com a Paróquia Sagrada Família, muitos o sabem,
vem de antes de eu nascer: meu avô Antônio, que aqui serviu como militar na
época da Segunda Guerra, ficou deslumbrado com a Igreja Matriz ao ponto de
escrever para minha avó Maria: “Esta igreja pó dentro é um céu aberto”. Não
poderia ele jamais imaginar que, um dia, um neto seu seria a pároco desta
igreja e Paróquia.
Não quero usar estas linhas para elencar realizações, mesmo
porque tudo o que fiz não fiz sozinho, senão com o apoio das lideranças e de
todos os paroquianos. Entretanto, avaliando os sete anos de minha presença
nesta Paróquia, posso dizer, sem medo de errar, que todo o meu ministério foi
pautado e fundamentado na Sagrada Liturgia, que sempre amei com um amor de
veneração.
Sempre acreditei que a Liturgia é o centro, “a fonte e o
ápice da vida cristã” (Lumen Gentium, 11) e não medi esforços para que a
Liturgia como celebração do Mistério da Fé pudesse ser bem celebrada,
compreendida, vivida nesta Paróquia. Desde a preocupação com o canto e a música
litúrgica, a formação dos vários ministérios que atuam na liturgia, o
investimento financeiro em som, microfones, ornamentação, espaço litúrgico...
Tudo foi feito com este objetivo: celebrar bem a memória do Senhor Jesus
Cristo, que é a verdadeira Festa da Igreja.
Mesmo que eu viva 100 anos, não vou me esquecer das
belíssimas liturgias aqui celebradas. Jamais me esquecerei das belas Semanas
Santas com suas imagens e procissões tão bonitas e organizadas, as principais
festas do Ano Litúrgico como a Páscoa, Pentecostes, Corpus Christi, Natal,
todas celebradas com sobriedade, esmero e solidariedade.
Amo a História, assim como amo a Beleza e a Liturgia. Por
isso, procurei me inteirar da história de Três Corações que se confunde com a
história da Paróquia dos Corações de Jesus, Maria e José. Este amor pela
história culminou na celebração dos 180 anos da instituição da Paróquia, onde
pudemos oferecer à Comunidade o acesso ao rico acervo da Paróquia através da
“Exposição 180 anos” e disponibilizamos, com esforço, o livro “Paróquia Sagrada
Família: uma história de amor com Três Corações”.
Tenha consciência de não ter me descuidado do trabalho
pastoral na Paróquia Sagrada Família. Pastoralmente, quando aqui cheguei,
encontrei muitas pastorais desfalcadas de membros – muitas haviam deixado as
pastorais –, algumas estavam desanimadas e sem lideranças. A todas procurei
ajudar, convidando mais pessoas para participar, fortalecendo as que estavam
enfraquecidas, dando formação dentro da área especifica de cada pastoral,
ministério e associação, renovando lideranças e, não obstante a quantidade de
pastorais já existentes, formando novas pastorais e ministérios: Pastoral
Carcerária, Pastoral da Comunicação, Ministério da Acolhida, dos Acólitos e dos
Leitores, Catequese com Adultos no modo do Catecumenato são os “meus filhos”
queridos.
Uma atenção especial foi dada às Comunidades. Como nós somos
uma Paróquia pequena, territorialmente e em número de comunidades, instituímos
a novena de todos os padroeiros. Isto fortaleceu muito a comunidade, sobretudo
porque nestas épocas, realizávamos também as visitas às famílias através de
missionários das comunidades, mesmo antes das Santas Missões Populares. Sem
falar na aquisição de materiais litúrgicos (vestes, livros, restauração de
peça, etc.) e também em reformas e melhoramentos. Falta ainda muita a coisa a
fazer, mas muitos projetos já estão prontos faltando apenas serem executados.
A Paróquia Sagrada Família foi e sempre será o “primeiro amor
sacerdotal” da minha vida. A esta Comunidade dediquei os meus primeiros e
melhores anos como padre, o que fiz em economia de vida e da saúde. E não me
arrependo, por fui muito feliz aqui apesar do pesares. Amei muito esta
Paróquia, embora nem sempre tenha sido amado... Mas a experiência de ser padre
tem dessas coisas: ser padre é a amar e não ser amado!
Gostaria de afirmar, sinceramente, que não levo comigo nenhum
tipo de magoa e de ressentimentos – o coração de um padre é grande o
suficiente, por graça de Deus, para não guardar este tipo de sentimentos. As
incompreensões, calúnias, difamações e ofensas que recebi, tudo soube entregar
e oferecer como sacrifício a Deus e com o amor tão terno da Nossa Senhora que
foi que me tomou no colo muitas vezes, sobretudo nos momentos de maior
sofrimento.
Só me arrependo de uma coisa: de ter ouvido pessoas que não
deveria ter ouvido e deixar de escutar pessoas que deveria ter escutado,
sobretudo no inicio do meu ministério. Quero sim pedir dos meus verdadeiros
amigos e das pessoas que gostam de mim que rezem por mim e pelo meu ministério;
orações são sempre sinceras e úteis.
Em obediência ao Exmo. e Revmo. Sr. Bispo Diocesano e por
amor a Cristo, o Bom Pastor, vou pastorear outras ovelhas em outras paragens,
cheias de “montanhas azuis”. Tenho certeza que lá também encontrarei pessoas
maravilhosas, comunidades cristãs vivas e atuantes e muito trabalho a fazer.
Para lá levarei em meu coração cada paroquiano (a), sobretudo aqueles com quem
convivi bem de perto, partilhando as dores e as alegrias da vida. Não posso
citar nomes, mas amo a todos!
Peço, humildemente, o perdão de todos se não fui o padre e o
pároco que a comunidade tricordiana da Sagrada Família merecia. Entretanto,
saio com a sensação do dever cumprido, já que tudo o que poderia ter feito foi
feito com muito amor e carinho.
Doei a minha vida pelas minhas ovelhas, como Jesus, e saio
feliz e realizado!
Que Deus os guarde a todos na palma de sua mão.
Padre Daniel Menezes Fernandes,
Nascido em Guapé/MG, 18º sacerdote ordenado desta cidade,
filho de Fernando Antônio Fernandes e Enedina Aparecida Menezes Fernandes,
Cursou Filosofia no Seminário Nossa Senhora das Dores, Instituto Filosófico São
José em Três Corações, Graduado em Teologia pela Faculdade Católica de Pouso
Alegre/Pontifício Ateneu Santo Anselmo de Roma, Especialista em Espaço
Litúrgico e Arte Sacra pela PUCRS.
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