“O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir”.
A intenção recomendada aos fiéis para este mês éde que orem pela celebração da Jornada Mundial Missionária, para que seja ocasião de renovado empenho dos cristãosno serviço à vida, característico da Boa-Nova de Jesus. Que seria um renovado empenho? É possível exercer, num mundo tão conturbado, o poder de Jesus de servir? Como a sociedade olha aqueles servidores que, de forma altruísta, colocam suas vidas a serviço do irmão, a fim de que ele cresça? Dá para exercitar hoje os ensinamentos do Mestre de Nazaré? Será que já paramos para pensar que na Igreja de Jesus todos somos servidores? Empenho missionário é esforço concentrado numa única direção: é comunicação de novo ânimo de vidaao povo sofrido, que é erguido de sua exclusão e abatimento, recuperando sua dignidade e autoestima. É realizar transformações. Não são transformações milagrosas, mas resultado de se acreditar que um novo mundo é possível e que sua reconstrução passa pela decisão de cada um na escolha dos caminhos que possam decidir seguir. É mudança de postura e aceitação daquilo que se tornou ultrapassado. Os novos caminhos trilhados pelos missionários são os voltados ao serviço voluntário, onde se dedicam, em especial, a causas voltadas à restauração da justiça e da paz no mundo.
Proclamar os feitos de Jesus é dizer a todos que Ele veio para libertar as pessoas das amarras da exclusão; para que todos ouçam e falem, que tenham consciência,reivindiquem e lutem por seus direitos. Em Jesus, toda a humanidade é vista em sua condição divina. Os missionários do século XXI, à semelhança dos evangelistas e apóstolos, anunciam a conversão. Mas, para que possam fazer este anúncio, faz-se necessário primeiro eles próprios terem sido convertidos, libertando suas mentes das ideologias que deformam a face de Deus. Não temos o direito de moldar a Palavra de Jesus às nossas conveniências e aspirações. É preciso investir na renovação de nosso próprio entendimento.
O Espírito sopra onde e como quer. Será que já paramos para refletir sobre isso? Sopra para dissipar das mentes as trevas alienantes que nos chegam através da ideologia do poder. O novo ensinamento, aquele trazido por Jesus de Nazaré, liberta e gera esperança e alegria em todos. Não foi esse o significadoda Boa-Nova? Sim. Foi a proposta de conversão de vida, de abandono de uma religião estéril e de adesão à prática do amor transformante das relações humanas, pelo desapego, na fraternidade, na justiça e na paz.
Ser missionário é seguir os passos de Jesus a caminho do Calvário, caminho da Cruz;é revestir-se do próprio Jesus na prática do amor e desapegar-se das tradições humanas e interesseiras que nos afastam da justiça de Deus; é rever onde colocamos nossas esperanças, se no mundo material ou se temos propósito de uma vida partilhada em Jesus. Carregar a cruz é transformar-se conscientemente e ressuscitar com Cristo glorificado, sentindo-se fazer parte da Criação em toda sua plenitude que, com Jesus, tem a vida eterna. A vida eterna, ultrapassada a condição humana, envolve-nos como pessoa integralmente, corpo e alma. É da beleza do Ressuscitado que o missionário deve viver e anunciar a conversão à justiça, forma concreta do amor.
A conversão é colocada como desafio a ser vencido por todo fiel da Igreja militante aqui na terra. Deixar para traz as práticas individualistas e excludentes e reencaminhar-se para um fazer solidário é tarefa para humildes e sinceros guerreiros que, visualizando a luz de Cristo, descobrem novos rumos. Nós todos, de mãos dadas (religiosos, consagrados, leigos, adultos, crianças), somos os empreiteiros que, com empenho missionário, praticamos a misericórdia, a solidariedade e a partilha, caminho que nos leva à união com Jesus, com o Pai e o Espírito Santo.
A vida é um contínuo caminhar,mas de nada adianta caminhar sem saber para onde. É preciso andar nos caminhos de Deus. Haverá cruzes por carregar? Certamente que sim. É fácil? Não. O caminho da cruz nos dias de hoje é estar disponível para atender às necessidades de nossos irmãos, de modo a assumirmos o serviço como realização pessoal e partilha de vida. Ser missionário hoje é, sobretudo, tratar a cegueira pessoal e deixar de ser cego guiando outro cego, com o risco de ambos caírem no abismo; é abrir-se ao jugo suave de Jesus. A Palavra fecunda é a que renova as comunidades e a sociedade, convidando a todos para a vida em fraterna comunhão.
Lembremo-nos que Jesus pedia ao Pai para que fossemos um, como Ele e o Pai o eram e são.
Comentários