É Quinta-Feira Santa,
o Cordeiro foi imolado!
A Missa do Lava-Pés leva-nos a rever nossa história como integrantes do Povo de Deus. Em determinado momento da sua trajetória ele encontra-se no cativeiro do Egito. Lá estavam, sob o jugo e poder do Faraó, o profeta Moisés e seu irmão Aarão, primeiro sumo-sacerdote de Israel. Referências históricas mencionam as pragas que infestaram o Nilo, o grande rio, pai do Egito. A última e decisiva praga foi a morte dos primogênitos, que dobrou a vontade do Faraó, levando-o a conceder a liberdade aos hebreus que supriam a economia egípcia com mão-de-obra escrava.
A fé de Israel, ou seja, da multidão escravizada, mostrou-se inabalável. A confiança que depositava no Senhor Deus e no poder de Seu braço para abrir o caminho da liberdade foi a âncora que sustentou sua resistência diante dos difíceis momentos vividos, por ocasião das pragas lançadas sobre o Egito: da infestação de rãs e mosquitos; da peste dos animais; das tempestades de granizo; dos gafanhotos; da escuridão. O Êxodo, ou seja, a saída dos hebreus daquela terra da escravidão, marca a libertação do Povo Eleito que, a partir daí, segue como povo de Deus livre e organizado.
Aqueles que lerem o livro do Êxodo devem recordar o que disse São João: “Foi para ficarmos livres que Cristo nos libertou. Continuai, portanto, firmes e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão.” (Gl 5,1) A lei que nos comprometemos a observar na nova aliança estabelecida por Cristo é a lei perfeita de liberdade. (Tg 1,25) O Êxodo leva-nos a valorizar essa liberdade para que, libertos por Cristo, lutemos pela libertação de nossos irmãos. Duas foram as Tábuas de Pedra: a primeira diz respeito à nossa obrigação para com Deus (Ex. 31,18) e a segunda para com o nosso próximo.
Jesus não veio para destruir a lei, mas sim para transformá-la. O sangue marcado nas portas das casas ficou enterrado. As marcas da nova aliança foram gravadas por Jesus Cristo no coração do ser humano. Pela graça somos abençoados com os dons emanados do Espírito Santo de Deus. Dons que deveremos acolher e colocar em favor da cultura da vida, dos ideais, da dignidade, dos direitos dos marginalizados.
A celebração da Quinta-Feira Santa relembra a todos nós que Jesus Cristo quis, ele mesmo, derramar o seu sangue, ser o próprio cordeiro imolado. Celebrou ele a Ceia Pascal na qual instituiu o Sacerdócio e a Sagrada Eucaristia. Neste dia, plagiando Santo Agostinho dizemos:
“Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! E eis que estavas dentro de mim e eu fora, e aí te procurava. E eu, sem beleza, precipitava-me nessas coisas belas que tu fizeste. Tu estavas comigo e eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti aquelas coisas que não seriam se em ti não fossem. Chamaste, e clamaste, e rompeste a minha surdez; brilhaste, cintilaste, e afastaste a minha cegueira; exalaste o teu perfume, e eu respirei e suspiro por ti; saboreei-te, e tenho fome e sede; tocaste-me, e inflamei-me no desejo da tua paz”. (Confissões de Santo Agostinho, 27.38).
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