A Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo volta-se para, com gratidão, olhar os pastores de seus pais, avós, bisavós, enfim, para os sacerdotes condutores das almas deste peculiar rincão sul-mineiro.
Em maio de 2012 celebramos o centenário de nascimento de Padre Manoel, ocasião em que queremos colocar em destaque seu espírito de fidelidade e obediência aos ideais traçados por sua Diocese. Tudo que pensava realizar era fundamentado em um só princípio: EVANGELIZAR em único e primeiro lugar. A caminhada evangelizadora apresentou-se árdua, no entanto, seu coração via com clareza que era ela a principal missão da Igreja e, por tanto sua, como a ela consagrado. Para que isso acontecesse na Paróquia, se fortalecia em Cristo Jesus e através de piedosas orações.
Firme em sua meta espiritual, ao mesmo tempo em que organizava grupos ligados às práticas marianas, como a Legião de Maria e a Congregação Mariana, tentava levantar fundos para estruturar espaços físicos onde se dariam encontros coletivos. Tinha consciência que, para evangelizar, fazia-se necessário administrar bem os recursos humanos, financeiros e econômicos. Durante o seu paroquiato, Padre Manoel exortava os congregados para seguirem rigorosamente as normas e condutas estabelecidas para os grupos. Acompanhava com zelo ardente, austeridade e rigidez as reuniões e condutas dos fiéis, tanto em seu atuar na igreja como em sua vida comunitária e familiar. Mas as crianças e jovens tocavam-lhe o coração e ele os tratava com especial brandura; sua casa, quintal, pátio e fazenda os recebia calorosamente durante as excursões que ele organizava.
Padre Manoel construía prédios e consciências. Os livros Tombo da Paróquia apontam o dinamismo com que atuava para encontrar formas de bem servir seu rebanho.
No árduo e espinhoso caminho de seu apostolado deixa um único desabafo: ”fiquei sozinho”. Não poderia ser diferente daquilo que viveu o Mestre de Nazaré que, voltando para o Pai diz: “porque me abandonastes?”
Seu estilo ficou conhecido e é lembrado pelos católicos: reunia pessoas, em especial crianças, para orar, brincar, estudar o Evangelho, fazer leituras espirituais, assistir filmes edificantes, cantar, louvar, plantar. Conforme a pedagogia vigente na época, aplicava correções fraternas.
Como no passado, ainda hoje algumas pessoas recordam-se dele como aquele que, com seriedade e retidão, administrava as grandes quantias levantadas para construção de espaços de evangelização. Ousamos apresentar o que se nos apresenta anotado às folhas 230v, do Livro III, Fábrica da Paróquia, sob o título: “Prestação de Contas pelo Fabriqueiro”, Padre Manoel Francisco Maciel, nos termos do relatório de fevereiro de 1949: “Vistas e examinadas as contas supra, aprovo-as chamando a atenção ao Revmo. Fabriqueiro sobre as observações desta “prestação de contas.” Campanha. Monsenhor Mesquita.” As referidas observações são as seguintes: “é digna de encômios a presteza com que o Revmo. Fabriqueiro vem conscienciosamente apresentar este livro, logo no início do ano”. Em 13 de janeiro de 1950, o Chanceler do Bispado, Cônego José do Patrocínio Lefort, diz: “tudo verificado, nota-se a presteza com que foi apresentado este livro e ordem nos lançamentos”. Em 17 de janeiro de 1951, as observações são: “ houve muita pontualidade na apresentação deste livro; a escrituração está especificada e a página 262 assinala o saldo das capelas: Pouso Alegre, da Mata, São Bento e Santo Antonio da Estação.” O livro traz a chancela de encerramento em 17 de janeiro de 1952 com elogios ao Padre Manoel.
Em visita pastoral de 1946, Dom Innocêncio diz: ”muito louvamos o zelo do Revmo. Pároco Padre Manoel em reformar e levantar não somente as Irmandades como também o próprio espírito do povo, tão abalado pelos tristes fatos que, infelizmente, aqui se desenrolaram nestes últimos anos.”
Em seu relatório final, o Revmo. Padre Manoel, às folhas 54, Tombo III, diz: “deixo a Paróquia enriquecida com o Apostolado; boa Pia União; boa Congregação Mariana; boas catequistas; Conferência Vicentina e uma Cruzada Eucarística formada com as melhores crianças e zelosos coroinhas”.
Com os ventos renovadores do Concílio Vaticano II (1962–1965), as estruturas diocesanas foram adequadas à realidade Eclesial. Mas no tempo do Padre Manoel, párocos navegavam nas águas agitadas do não-entendimento quanto à boa gestão dos bens eclesiásticos, pela qual todos os fiéis cristãos são co-responsáveis. Não havia conselhos administrativos paroquiais ou outro conselho qualquer. Assim, logo após sua saída, foram demolidas igrejas (de Santo Antonio e dos Passos) e vendido o salão paroquial.
Invocando a proteção de Deus e o auxilio da Senhora do Carmo, ousamos constituir uma comissão organizadora para prestar uma singela e digna homenagem à memória do Padre Manoel, pelos cem de seu nascimento. Contamos com a aprovação deste Conselho.
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