" (...), num trecho do Campo Grande, no território de Carmo da Cachoeira, o Ribeirão do Cervo deságua na margem esquerda do Rio Grande. Suas nascentes ficam no rumo da Serra das Carrancas." Apresenta o afluente Couro do Servo que segundo o Dr. Tarcísio José Martins é o Ribeirão do Carmo. Segundo ele o local é conhecido hoje como Povoado da Estação ou Estação do Couro do Cervo.
Implantação do café em Carmo da Cachoeira
Infraestrutura para o escoamento da safra
No Brasil dos ciclos da cana-de-açúcar e do ouro, o transporte de cargas era feito pelas tropas de mulas. Com a introdução do cultivo do café no vale do Rio Paraíba no século XIX e sua grande aceitação no mercado internacional, fez-se necessário o escoamento mais rápido da produção para ser embarcada nos portos. Assim, no ano de 1854 surgiu a Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis.
Em 1878 era inaugurada na província de Minas Gerais a estação de Sítio (hoje Antônio Carlos). no ano seguinte a de Barbacena. O imperador D. Pedro II inaugurou solenemente, em 28 de agosto de 1881 o prolongamento até São João del Rei. Em 1º de dezembro de 1926 foi inaugurado o ramal da Rede Sul Mineira no trecho Lavras a Três Corações. A inauguração desse ramal causou verdadeiro entusiasmo e justas manifestações de alegria em Lavras e em Três Corações em razão da facilidade da exportação do café do sul e oeste do estado para os dois principais centros de mercados do país: Rio de Janeiro e Santos.
Algumas regiões do Vale do Paraíba paulista, como Areias e Bananal, em Minas Gerais, concentravam grande quantidade de escravos em função da expansão da cultura cafeeira.
arte de Maurício José Nascimento |
Se o ‘ouro verde’ dos campos de pastagens, tal como efêmeras itaipabas setecentistas se esvairia sem demora, outro ‘ouro verde’, este sim duradouro, passaria a atrair a atenção dos agricultores do Sul de Minas a partir dos anos setenta do século XIX. Tratava-se do café.
José Roberto do Amaral Lapa em, A Economia Cafeeira. São Paulo (Brasiliense, 1998, p. 26) escreve:
Oriundo da província de São Paulo, que já cultivava em grande escala o café entrou no Sul de Minas para aí se estabelecer de vez.
Em 1874, segundo Saturnino da Veiga:
Note-se nos quintais das casas grandes plantações de café, que produz abundantemente.
No entanto, à época os produtos principais da exportação regional ainda eram o fumo, a aguardente, o algodão e o gado vacum, suíno e lanígero, já se começava a exportar uma pequena quantidade de café.
Em 1875, frente a perspectiva da chegada da estrada de ferro à região, o jornal Monitor Sul-Mineiro em 17 de abril, nº 171, 3, dizia que só o café poderia salvar a lavoura sul-mineira de um colapso e garantir um futuro esperançoso e opulento. Afirmava que, em Lavras o café produzia tão bem quanto nas mais afamadas terras das matas paulistas, bastando apenas escolher os terrenos mais altos, livres de geada. Por essa época, a economia ainda estava baseada na mão de obra escrava, porém, já se achava em andamento a substituição desta pela imigração europeia, sobretudo italianos e portugueses, para o trabalho das lavouras.
A partir da penúltima década dos anos oitocentos, paralelo ao café, outro fator que incrementou o progresso do Sul de Minas, foi a implantação da ferrovia.
Quanto às estradas, em 1946, eram iniciados os trabalhos de construção da rodovia que liga Lavras a Carmo da Cachoeira, cuja obra havia sido executada em comum acordo entre as prefeituras municipais através de seus prefeitos, Adolfo Moura e Amynthas de Oliveira Vilela (15.2.1946 a 26.4.1946). Os trabalhos foram iniciados com o auxílio de um movimento de subscrição popular em Carmo da Cachoeira com amplo sucesso, destacando-se a contribuição do industrial Joaquim Cocconi da firma Walter Cocconi & Irmãos Ltda, proprietária de vários laticínios, que além de fornecer madeiras para a construção da ponte sobre o Rio do Cervo, colocou caminhões para o transporte de pedras e outras facilidades.
imagem de Ricardo C. S. Caldeira
Inauguração de estações da Estrada de Ferro Oeste de Minas
Em Formação Histórica dos Campos de Sant'Ana das Lavras do Funil (fls. 314 e 315), Márcio Salviano Vilela dedicou o capitulo VII de sua obra para falar sobre a Ferrovia em sua região de estudo - Lavras e adjacências. Diz ele:
Nos vários ramais implantados no início do Século XX pela Estrada de Ferro Oeste de Minas, houve a necessidade do estabelecimento de muitas estações, quando em muitas delas originou a formação de arraiais, vilas e cidades. Abaixo estão relacionadas algumas estações, suas datas de inauguração e posição quilométrica, das quais representaram em seus distritos um importante movimento comercial, com outras ferrovias interligadas, o grande meio de comunicação e transportes no início do século XX, conforme relata Mucio Jansen Vaz, em sua obra, Estrada de Ferro Oeste de Minas. Trabalho Histórico - Descritivo 1880/1922 ([S.L.: s.n], 1992).
O trecho inicial da ferrovia, que ia de Sítio (hoje Antônio Carlos) ponto de entroncamento com a Estrada de Ferro D. Pedro II a Barroso, com 49 km de linha, foi inaugurada em 1880.
A bitola 0,76m (bitolinha), foi escolhida pelas características do relevo da zona a ser percorrida e por ser mais econômica. O percurso é o seguinte: Sítio; São João del Rei; Aureliano Mourão; Bom Sucesso; Oliveira; Divinópolis; Martinho Campos e Paraopeba.
fotos de Evando Pazini |
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A Estação do Couro do Cervo foi inaugurada em 30-06-1918, permanecendo a Rede Sul-Mineira até 1931. Outros concessionários: Rede Mineira de Viação (1931-1965); Viação Ferroviária Centro-Oeste (1965-1975); Rede Ferroviária Federal S/A, 1975. Hoje desativada.