Os problemas com a expedição não demoraram a aparecer. Bestas de cargas não agüentaram o peso e ficaram pelo caminho. Escravos e pedestres desertaram. Os participantes foram entrando em pânico com a presença cada vez mais próxima dos índios e dos quilombolas. Os conflitos entre Pamplona e seu Tenente, José Serra Caldeira foram ficando cada vez mais sérios. Além destes, Pamplona teve também problemas com o juiz de sesmarias de São José, João Ribeiro de Freitas. Alegava este ao Conde de Valadares que Pamplona estava “usurpando a jurisdição e medindo e demarcando sesmarias no Sertão de São Francisco sem faculdade ou comissão [dele]...”¹ . Em maio de 1770 Pamplona escrevia ao Conde dizendo que um Juiz de sesmarias havia alterado as demarcações feitas por ele e que isto estava provocando sérios problemas na região. Ameaça dizendo que desta maneira, não haveria como continuar a povoação do Campo Grande.²
Um outro problema enfrentado foi a impossibilidade de conseguir homens nos arraiais por onde passavam. João Pinto Caldeira recebeu ordens de Pamplona para que montasse uma patrulha com 30 homens retirados de diversas localidades. Não conseguiu porque, segundo Pamplona, os moradores não queriam ter qualquer despesa. Sabendo-se que estes moradores eram pessoas pobres pode-se questionar até que ponto não queriam ou não podiam participar de um empreendimento oneroso como este. Provavelmente, não poderiam.
Além do que, fica uma outra dúvida em suspenso. Alguns dias depois desta carta, Pamplona enviou uma outra ao Conde dando conta que se os quilombolas soubessem do número ínfimo de pessoas que habitavam as localidades fariam maiores estragos. Eles já haviam colocado fogo na Capela de Santa Anna do Bambuí.
Que mais não poderiam fazer? O que nos surpreende é que se Pamplona sabia que estas localidades possuíam poucos moradores, como dias antes alegara que a retirada de alguns indivíduos destas vilas não provocaria nenhum “desfalque”?
Mas as dificuldades continuavam a aumentar. As expedições menores que partiam a procura de ouro voltavam sem nada achar, tornando seus gastos infrutíferos. As pessoas, já fixadas ou não, negavam-se a emprestar seus escravos para as obras públicas alegando não os possuir ou tê-los em número muito reduzido.
Depois, pediam sesmarias justificando o pedido pela posse de numerosos escravos. Achavam ainda que Pamplona havia os enganado e que a região não era tão fértil assim:
“....estes moradores [de Campo Grande] já irados de mim uns com os outros clamam que eu os enganei e os guiei aquele lugar com promessas vãs e os reduzi a pior estado e que não querem fazer as suas fabricas de teares para não pagarem o que não podem lucrar dos algodões, trigos, centeio, cevadas e outros legumes de abundância e fartura que servem a terra e que logo todos daquela paragem se retiravam sem demora...”³
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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1. Carta de João Ribeiro de Freitas ao Conde de Valadares em 24.9.1769. Arquivo Conde de Valadares. Biblioteca Nacional , Seção de manuscritos. Cód. 18,3,5 doc. 124
2. Carta de Ignácio Correia Pamplona ao Conde de Valadares em 15.5.1770. Arquivo Conde de Valadares. Biblioteca Nacional , Seção de manuscritos. Cód. 18,2,6 doc. 61
3. Carta de Ignácio Correia Pamplona ao Conde de Valadares em 22.9.1770. Arquivo Conde de Valadares. Biblioteca Nacional , Seção de manuscritos. Cód. 18,2,3 doc. 8
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