A idéias de aproveitarem alguns índios para auxiliar no desenvolvimento das regiões permaneceram e Marlière, um dos mais importantes Diretores Gerais dos Índios de Minas Gerais no século XIX , alegava que o Brasil era um país imenso em extensão e com uma população muito pequena, o que dificultava todas as tentativas de povoar determinadas regiões e também em defendê-las. Uma alternativa proposta por ele era a de que se deveria organizar:
“...a todos os índios mansos capazes de pegar em armas, em companhias e batalhões. Cada companhia teria seus oficiais tirados dos mesmos índios... Cinco companhias formariam um batalhão e este batalhão poderia ser comandado por um oficial índio em tempos de paz. Os batalhões nos dariam excelentes tropas ligeiras pouco dispendiosas em tempo de guerra para defesa do país e dos nossos matos impenetráveis aos europeus mesmo aos oriundos não sendo índios. Neste caso, venceriam soldo. Fariam parte em todo o tempo da segunda linha. Falo por que já experimentei... Organizei os Coroados desse modo e aos coropós contra os Presídios da Pomba e São João Batista hoje são todos mansos. Os jesuítas do Paraguai usavam como se sabe deste método e deram o que fazer com seus índios as tropas da Europa empregadas contra eles. É escuso dizer que este método lisonjeia muito aos índios que nunca se recusam a obedecer o chefe de sua nação e nunca se aceitam a dar obediência a outros exceto se lhes forma longa experiência e suas intenções benévolas para com eles...”¹
O que o comandante estava propondo era a criação de um grande aldeamento, onde um grupo numeroso de índios pudesse ser controlado mais facilmente.
Em Minas Gerais, os aldeamentos durante o século XVIII tinham, além de sua função estratégica, um papel econômico: visavam suprir também a demanda por mão-de-obra nas regiões. Para tanto, ofereciam índios aos fazendeiros que seriam utilizados por tempo determinado recebendo em troca um salário. Em muitos casos, esta exigência ficava apenas na teoria.
Em 1701, o Rei respondendo sobre umas datas que possuía, afirmava que as mesmas deveriam ser entregues a Manoel Rodrigues de Arzão para que este cuidasse delas como se fossem suas. Várias facilidades foram oferecidas a ele. Com respeito à mão-de-obra, assim se referiu o Rei:
“... Os índios que hão de trabalhar nestas datas hão de ser das aldeias não se tirando mais que cinco de cada uma, que serão os que se entendem podem bastar para trabalharem nas datas e plantarem os mantimentos os quais hão de ser todos os anos reformados para que não percam o amor as suas aldeias...”²
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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1. Guido T Marliere ao Tenente Coronel Inspetor Director Geral de índios - Quartel de Guidoval. 1.10.1823 Junta do Governo Provisório JGP 1821/1824 - Sub-Série: Diversos- São Paulo - Caixa 5 JGP 18 189.
2. Carta do Rei para o Governador da Capitania do Rio de Janeiro, Artur de Sá e Meneses, em 30.1.1701. Cód. 952, vol 12 p. 72
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