Histórias fantásticas que assombram o imaginário com seus fantasmas, almas penadas, lobisomem, mula sem cabeça soltando fogo pela boca, o cavalo de três pés, faziam parte do cotidiano da família Souza/Ferreira Avelino.
Eugênio de Souza, era sogro de Mané Saraiva. Durante as conversas "ao pé do fogo", ou nas noites claras e quentes de luar, os adultos contavam seus feitos e vivências - familiar ou vividas nos longínquos e infindáveis espaços deste imenso sertão, enquanto a criançada brincava descontraída. A história social e pessoal estava, nestes momentos sendo preservada e mantida naquele grupo familiar. A linguagem era a oral, simples, singela e compreensível a todos. Resguardar partes da história de Cachoeira, foi um dos feitos deste casal da foto, e mantida através de sua descendência, através de Neca, que as partilha com os internautas.
Enquanto a criançada, em algazarra cantava, declamava, adultos contavam seus "causos". Foi neste meio que Neca foi criado. Num ambiente familiar rico em convivo humano, de encontros e desencontros. Nos encontros, que aconteciam a noite, entre jogos, brincadeiras e cantos, rezas e declamações, havia sempre novidade a ser incorporada pelo grupo. Tudo se renovava, tudo se refazia. A magia esta nos encontros partilhados. Enquanto tudo acontecia de maneira informal, as lendas, os contos, os trava-linguas, as brincadeiras de roda, o pega-pega, o passa-passa, os processos de aprendizado se davam.
Cada participante, e a sua maneira, incorporava os conhecimentos. Através das letras contidas nas cantigas de rodas, de ninar, entre tantas outras, e que, de forma indireta cooperavam com o amadurecimento da criançada, acontecia um processo de pura alquimia e transformação. Mané Saraiva e Maria tiveram dezesseis filhos. Criaram doze, sendo oito meninos e quatro meninas, entre elas a Nenzinha Saraiva, mãe do Neca.
Personagens mitológicos e universais tem um papel especial. Enquanto falavam de seus sentimentos e vivências, aguçam a imaginação infantil. É o folclore garantido o desenvolvimento de um mundo muito especial - o da imaginação, da fantasia, da criatividade. Por apresentarem-se despersonificadas, essas experiências tem efeito multiplicador. Na realidade, refletem o processo pelo qual o ser humano passa enquanto cresce. Cada criança, através de seu crivo pessoal, e de sua percepção irá percebendo que suas dificuldades, seus medos, suas angústias, não são únicas e, com isso se fortalece. Leva para cama, através dessas vivências e brincadeiras ocorridas sob o céu enluarado, ou "ao pé do fogo" a segurança do grupo e, muito, muito mais. O sono e o sonhos se encarregarão de reciclar todo esse material recolhido e, ao amanhecer, a criançada não é mais a mesma. Está transformada e mais amadurecida. Tudo com muito amor, compreensão e amizade partilhada.
Projeto Partilha - Leonor Rizzi
Artigo Anterior: O a vida do tropeiro Mané Saraiva e sua família.
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