24 de dezembro. Dez horas da noite.
No alpendre de sua nova residência, aguardando a hora da missa do galo, Leonardo conversava com o irmão enquanto, um pouco afastada, Josefa contava aos filhos a história do nascimento de Jesus.
— Há uns 20 dias atrás — dizia Leonardo — as pessoas que por mim passassem haveriam de pensar, e não sem razão, que dentro em breve eu iria aumentar o número dos que vivem da caridade pública.
— E se tal viesse a acontecer? Perguntou Pedro.
— Seria a vontade de Deus e eu a ela me submeteria humildemente. Não me julgaria diminuído com isso, por que, como sabemos, São Francisco de Assis, que era rico, lá um dia desprezou a riqueza, o luxo em que vivia e foi procurar a sua santificação metendo-se entre os que viviam miseravelmente de esmolas.
— E se tal viesse a acontecer? Perguntou Pedro.
— Seria a vontade de Deus e eu a ela me submeteria humildemente. Não me julgaria diminuído com isso, por que, como sabemos, São Francisco de Assis, que era rico, lá um dia desprezou a riqueza, o luxo em que vivia e foi procurar a sua santificação metendo-se entre os que viviam miseravelmente de esmolas.
Um dos meninos interrompeu a conversa, dizendo:
— Se papai precisasse viver de esmolas, seria só enquanto nós ainda não tivéssemos forças para trabalhar. Seria uma vergonha pra nós, não é, mamãe?
— Certamente, meu filho. Quem pode trabalhar não deve viver à custa do trabalho alheio porque, se o fizer, não somente cometerá um crime contra a sociedade, mas também incorrerá no desagrado de Deus que não quer que ninguém viva na ociosidade e sim que todos trabalhem para ganhar honestamente tudo aquilo de que necessitem pra viver.
— Já que estamos falando em esmolas — atalhou Pedro — vamos tratar de um assunto de grande interesse para nós e para mais alguém e sobre o qual venho pensado há vários dias. Trata-se do seguinte: Como vocês já não ignoram, o dinheiro que tenho em bancos e minhas propriedades de São Paulo, rendem bem mais do que precisamos para viver confortavelmente; ora, como sou solteiro, os meus herdeiros serão meus sobrinhos e não penso em acumular dinheiro pra eles, visto como, quando estiverem na idade, cada um escolherá a profissão que quiser e, portanto, ficarão habilitados a ganhar a vida mais facilmente, porém trabalhando.
— Estou de pleno acordo com sua idéia, meu irmão — assentiu Leonardo — porque meu desejo é mesmo que meus filhos possam viver do seu trabalho; isso será não só uma grande honra para eles, mas também um preservativo contra a ociosidade que, como dizem os moralistas, é a mãe de todos os vícios.
— Pois bem. Em vista de tudo isso e como de antemão já contava com o apoio de vocês à minha idéia, digo-lhes que resolvi distribuir o que nos sobra pelos necessitados, pelos que, comprovadamente não podem trabalhar para prover o próprio sustento e o de sua família, se tiver. Que dizem vocês a isto?
— Dizemos que é uma idéia excelente e digna do verdadeiro cristão que você é.
— Então começaremos a tratar disto amanhã mesmo, porque comemoraremos melhor o nascimento de Jesus Cristo e os pobres terão também sua festa de Natal.
— Certamente, meu filho. Quem pode trabalhar não deve viver à custa do trabalho alheio porque, se o fizer, não somente cometerá um crime contra a sociedade, mas também incorrerá no desagrado de Deus que não quer que ninguém viva na ociosidade e sim que todos trabalhem para ganhar honestamente tudo aquilo de que necessitem pra viver.
— Já que estamos falando em esmolas — atalhou Pedro — vamos tratar de um assunto de grande interesse para nós e para mais alguém e sobre o qual venho pensado há vários dias. Trata-se do seguinte: Como vocês já não ignoram, o dinheiro que tenho em bancos e minhas propriedades de São Paulo, rendem bem mais do que precisamos para viver confortavelmente; ora, como sou solteiro, os meus herdeiros serão meus sobrinhos e não penso em acumular dinheiro pra eles, visto como, quando estiverem na idade, cada um escolherá a profissão que quiser e, portanto, ficarão habilitados a ganhar a vida mais facilmente, porém trabalhando.
— Estou de pleno acordo com sua idéia, meu irmão — assentiu Leonardo — porque meu desejo é mesmo que meus filhos possam viver do seu trabalho; isso será não só uma grande honra para eles, mas também um preservativo contra a ociosidade que, como dizem os moralistas, é a mãe de todos os vícios.
— Pois bem. Em vista de tudo isso e como de antemão já contava com o apoio de vocês à minha idéia, digo-lhes que resolvi distribuir o que nos sobra pelos necessitados, pelos que, comprovadamente não podem trabalhar para prover o próprio sustento e o de sua família, se tiver. Que dizem vocês a isto?
— Dizemos que é uma idéia excelente e digna do verdadeiro cristão que você é.
— Então começaremos a tratar disto amanhã mesmo, porque comemoraremos melhor o nascimento de Jesus Cristo e os pobres terão também sua festa de Natal.
Meia-noite. Ajoelhados entre a multidão que enchia a igreja. Leonardo e Josefa oravam fervorosamente, pedindo a Deus a felicidade do irmão e cunhado; daquele homem que, no meio da abundância, não se esquecida dos pobrezinhos que passavam a vida só Deus sabe como; daquele homem extraordinário que pouco antes havia manifestado tamanha prova de amor ao próximo, propondo-se realizar uma obra que, se pudesse servir de exemplo e encontrasse muitos imitadores, colocaria a humanidade no caminho que a conduziria à verdadeira Fraternidade Universal.
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”.
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
Comentários
FELIZ NATAL A TODOS.
A paixão e seus produtos: uma consciência retrospectiva nos romances de Almeida Faria, p.165 a 172 de NAU LITERÁRIA, Porto Alegre; Lisboa, n.1 - jul./dez.2005. Texto de Lígia Savio, professora de Teoria da Literatura na Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras (FAPA).
Cf.; www.msmidia.com/nau/01/19ligia.pdf
(...) Em NAUS, de Antonio Lobo Antunes, o poeta Luís carrega (...). Em História do cerco de Lisboa, de Saramago, a figura do pai da pátria, Dom Afonso Henriques, é dessacralizada (...)
As diversas vozes que se cruzam na Tetralogia formam uma rede que envolve vários lugares, de diferentes continentes (o Alentejo, Lisboa, Veneza, Roma, Milão, Madeira, Açores, Faro, Rio de Janeiro, São Paulo, Luanda) e várias etnias (portugueses, brasileiros, italianos, árabes, judeus, africanos) (...) a experiência do cosmopolitismo (...), a formação de uma comunidade cultural sem fronteiras, a opção pela arte e a eterna desconfiança com relação a qualquer tipo de pacto nacionalista (...).
Tipo de documento - Inventário
Ano - 1788 caixa - 182
Inventariados - (Victor) Vitor Antônio de Oliveira e Maria da Silva.
Inventariante - João Modesto de Oliveira
Local - São João del Rei
Fl.01
Inventário dos bens que ficaram por falecimento de Victor Antônio de Oliveira e sua mulher Maria da Silva de quem é inventariante seu filho João Modesto de Oliveira.
Data - 15 de dezembro de 1788
Local - Vila de São João del Rei.
Fl. 07
Bens
- 10 escravos
- 03 foices; 03 enxadas; 01 machado
Uma escritura de 500$000 de uma fazenda que se vendeu a Francisco Leme.
Fl.08
Filhos
01 - Valério de Oliveira Leitão
02 - Agostinho da Silva
03 - Manoel Antônio Saldanha
04 - João de Souza
05 - Beatriz Maria
06 - Maria de Oliveira
07 - João Modesto de Oliveira
Fl.10
PROCURAÇÃO
Procuradores nomeados - José da Silveira e Souza; José Rabello Maia; Gomes da Silva Pereira; Capitão Antônio Gonçalves Figueiredo; Alferes Manoel de Sá Peixoto Ferraz (Ferrás); Francisco Soares da Graça.
Local - Vila de São João del Rei
Data - 09 de janeiro de 1789
Que faz - Valério de Oliveira Leitão.