Finda o dia. Aos poucos, vão buscando os seus ninhos E vão-se aconchegando, buliçosamente, A revoada leda dos passarinhos.
Vem a noite. À mesa, a família se reúne E, depois da ablução e do perfume, Encontra, na ceia apetecida, O repasto, que refaz as forças E o repouso feliz da sua lida.
Vem o sonho. E, no sonho, penetro em teu quarto. Vejo teus discretos movimentos E minha alma atenta estremece. A cabeça se inclina docemente E a boca, levemente entreaberta, Murmura breve e comovente prece.
Sinto, no ricto de tua boca, a expressão Feita num doce e doloroso corte Do beijo dado na veemência louca E daqueles que, apesar de querer tanto Neguei, deixando o amargo desencanto E um gosto de saudade em minha boca.
Todo o sonho sinto envolto na casta assepsia. Sinto, porque te amo e te acompanho E te sigo, na dor e na alegria. Tu vais sempre embalado comigo, Não sei se és meu amor ou meu amigo.
E depois, Sondo os segredos do teu corpo amado, Quanto me sinto envolta nos teus braços, Sinto-te as mãos nas minhas enlaçadas, No doce afago que também te faço.
Sinto teus olhos tão negros, tão profundos, De uma luz e fluidez tamanha, Que nenhum encanto neste mundo, Me encanta mais, quando esse olhar me banha.
Projeto Partilha - Leonor Rizzi
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