O Júlio César, filho de Neca e Selma, está visitando os pais neste fim de semana. Veio de Alfenas, onde estuda e trabalha, e está curtindo um fim de semana no aconchego familiar. Seu nome, "Júlio", veio em homenagem ao avô paterno - Júlio de Oliveira Dias. Aliás, tanto o Neca, como a Selma pertencem a Família Dias. Eles são primos. E aí vem história. Quem conta é o Neca:
Acredito que, foi lá pelos anos de 1880, que meu avô Ernesto de Oliveira Dias saiu de Campanha onde nasceu e se criou. Foi administrar a fazenda Figueira, em Três Pontas, Minas Gerais. Nesta fazenda nasceu meu pai, Júlio de Oliveira Dias, mais conhecido como Júlio Ernesto, em 09 de julho de 1902.
Anos depois, Júlio Ernesto se casou com minha mãe, Maria Ferreira Dias, mais conhecida como Nenzinha Saraiva. Maria Ferreira era filha de Manoel Ferreira Avelino e sua mulher, dona Maria Batista de Souza, filha de Eugênio de Souza, irmão de seu Lica, Olimpio Virgulino de Souza.
Na fazenda Figueira de Três Pontas viviam então, a portuguesa Cândida Azevedo de Jesus, seu Ernesto meu avô, e seus filhos. Com 12 anos meu pai - o filho Júlio, seguido de seus pais e irmãos se mudaram para a fazenda Faria, município de Lavras e vizinha da fazenda Chamusca. O momento era marcado pelo impulso desenvolvimentista, com a construção das Estações Ferroviárias. Meu pai, trabalhou na construção da Estação Faria. Entre muitos amigos, minha família tinha uns muito especiais: a família Ermetto (família Ermeto).
Hoje, o nome Ermeto, em Lavras, está ligada a tradicional farmácia lá existente. Através desta família, e por meio dela, é que meu pai, lá pelos anos de 1916/20, conseguiu emprego bom e foi inserido num mercado de trabalho mais promissor e fora da construção civil. O emprego foi numa fábrica de tecidos existente em Lavras. Esta fábrica foi transferida posteriormente para Itajubá, Minas Gerais. Regulamentada em 1925, esta empresa recebeu o nome de Indústria Textil Oliveira, ainda existente e de propriedade de Rogério de Paula Mascarenhas. Ficava na Água Limpa que, segundo meu pai contava, ficava a meia hora da divisa com o Estado de São Paulo, num percurso feito a cavalo. Na Água Limpa, hoje nome de um bairro, ficava também o Quarto Batalhão de Engenharia de Combatentes. Foi ali instalado, vindo do Rio Grande do Sul e atendendo uma necessidade a de segurança e com finalidade estratégica. Chegou no local em 1921, quando meu pai havia recém chegado ao local, e estava tralhando na indústria têxtil.
Água Limpa é Distrito de Itajubá, e onde nasce o rio Sapucaí, na Serra do Piquete. Está aí instalada, também, a Usina Luiz Dias, que se chegou ao local para fornecer energia para indústria de tecido Codorna (1916/1920 . Esta pequena indústria foi absorvida logo depois pela presença de muitas outras do mesmo setor. Esta é a Itajubá de meu pai. A Itajubá dos trilhos, da antiga ferrovia aos pés da Serra do Piquete, hoje o Museu Venceslau Braz. Hoje, o Museu é municipal e a ferrovia, pertence ao governo estadual. A Itajubá, dos prédios construídos em estilo inglês, e que, nada tem de parecido com a Itajubá moderna como a conhecemos hoje.
Naquela Itajuba antiga, Júlio, meu pai, se alistou para servir o exército, aliás, servir sua pátria. Em 1922, Júlio foi servir sua Pátria em Juazeiro do Norte na Bahia. Foi momento de tumulto no Brasil. Durante o período que lá esteve contraiu "maleita", e ficou internado durante 3 anos. Curado, voltou para seu Batalhão e na função de cabo especializado em eletricidade. Ficou aí até sua baixa, no ano de 1934. Como aposentado trabalho na Fazenda Chamusca, Carmo da Cachoeira, Minas Gerais durante mas 35 anos, quando veio a falecer, no ano de 1972.
Projeto Partilha - Leonor Rizzi
O cachoeirense Neca, é alegria contagiante.
Próxima matéria: Viver com simplicidade, um dia de muita alegria.
Comentários
segundo Sylvestre Fonseca e João Liberal,ano 1918, p.117:
"Propriedade do Cel. Antonio Justiniano de Paiva, e onde reside o seu filho, o competente agrimensor Dr. Armando de Paiva.
Situado a Três km da cidade de Varginha, possue uma extensa e rica área de terras, em sua totalidade de culturas de primeira ordem.
Contem para mais de 30 alqueires de cafezaes ainda novos, porém em franca produção.
Prósperas e abundantes pastagens, e desenvolvida indústria pastoril.
Possue a fazenda uma excellente machina de beneficiar café e outras bemfeitorias, que a tornam valorizada e digna do progresso agrícola".
segundo Sylvestre Fonseca e João Liberal, p.11, ano 1918:
Proprietário da FAZENDA DAS POSSES, propriedade do Cel. Antonio Justiniano de Paiva Júnior. Situada a sete kilometros da cidade de Varginha.
Área. 450 alqueires de terras, mais ou menos, comprehendendo 90 alqueires de cafesaes, produzindo em média 11.000 arrobas por anno; 300 alqueires de pastagens; 30 de mattos e 30 de capoeiras.
Industria pastoril bastante prospera, com 600 rezes de criar. Entre as diversas raças se destaca a hollandeza.
Além do café, ha, bastante desenvolvidas, lavouras de canna e cereaes.
Uma superior machina de beneficiar café, movida a vapor, e outros machinismos.
Colonias. De preferência a Italiana.
segundo, Luiz José Álvares Rubião (publicação com páginas sem numeração). Álbum da Varginha, Estado de Minas Geraes,
Esta esplendida fazenda, uma das mais pitorescas do município, de propriedade do Snr. Antonio de Paiva Júnior, está situada à margem de uma collina, na cabeceira do "Corrego do Matto da Onça", a 7 kilômetros do centro da cidade. É um dos estabelecimentos agrícolas mais importantes do município, quer pela sua área de 450 alqueires, quer pela sua producção de café e ainda pela industria pastoril grandemente desenvolvida. Fartamente irrigada, as suas pastagens de capim gordura e franqueiro dão alimento de 800 rezes de gado, na maioria de raça Holandesa, que forma o rebanho da fazenda. Funciciona na mesma fazenda uma grande fábrica de manteiga, a mais importante de todo o município, arrendada á firma da nossa praça S. Villela & Cia. que ha annos a vão esplorando, e que produze as afamadas marcas "Paiva" e "Turmalina", as preferidas do mercado do Rio de Janeiro para onde se faz a exportação.
O Snr. Antonio Paiva Júnior, moço trabalhador, intelligente, de trato affavel, tem em poucos annos grandemente melhorado, o melhor, tem feito uma verdadeira transformação no antigo estabelecimento agrícola.
Ressurgiu, como por encanto, pela energia phenomenal do nosso jovem patrício, a vida futurosa à velha fazenda. São obras notáveis: Uma represa d´água que, aproveitando, por canaes que lembram as obras de de irrigação nos campos de Europa, os pequenos córregos e as águas pluviaes que precipitam da collina, desenvolve uma força de 22 cavallos empregada a mover à machina para o rebeneficio de café, o engenho de canna e a fábrica de manteiga; o encamento da água da represa, para mover as machinas, que é uma obra prima, bem medida na sua queda, bem collocada para que o visitante sem perigo, possa chegar até a turbina; a casa de morada um edifício que se destaca do velho estylo das fazendas, construído a cavalleiro da estrada que vae para O CARMO DA CACHOEIRA, com um bonito pomar, instalação sanitária, luz elétrica e com todas as caracteristicas para ser considerada uma vivenda digna de figurar no numero das nossas melhores habitações.
A lavoura de café que se divide em duas partes, os velhos cafezaes que se mantêm ainda pujantes pela adubação sistemática e as novas plantações que, em obstinação de titans se arraigam pela collina até ganhar a descida e logo, numa corrida vertiginosa até a baixada donde parecem descansar, produz 8.000 arrobas de bom café, de grão egual e de esplendido aroma; quantidade esta que vae ser excedida com o desenvolvimento dos novos cafezaes.
O cultivo da canna, que tinha sido abandonado no ano de 1917, foi reencetado e promette brevemente alcançar o nivel da propriedade primitiva. E para que nada falte na "FAZENDA DAS POSSES" esta perspectiva seja brevemente alcançada: o solo uberrimo, os declivios soalheiros, o engenho que espera anciosamente a preciosa graminea para reecetar os trabalhos dos tempos idos e, sobretudo, a energia e constancia de seu proprietário, são elementos promettedores.
O cultivo dos cereaes é largamente desenvolvido; a colheita desta anno foi tanto abundante que uma grande parte foi exportada da fazenda; às plantações de arroz produzem regularmente.
Dos dados referidos, pode-se assim concluir, que a "FAZENDA POSSES" constitue um dos poucos estabelecimentos agrícolas onde todos os elementos de producção se acham activamente funcionando.
Temos, no curso destas páginas, louvado os proprietários das nossas fazendas, salientando o esforço e esmero com que dirigem seus estabelecimentos, o carinho com que se dedicam a intensificar a produção: uns sobresahindo pela lavoura cafeeira, outros pela indústria pastoril ou pelas installações de suas machinas; mas de poucos fazendeiros temos podido dizer como nosso amigo Cap. Antonio de Paiva Júnior, que tem, em alto grau, desenvolvido todas as energias da sua fazenda; rivalizando com as boas. O café, os cereais, os cannaviaes, a indústria pastoril e a fábrica de manteiga, fazem parte de um único e grande organismo para o rendimento colossal da "FAZENDA POSSES".
A COLONIA - Queríamos dar uma detalhada para evidenciar o sentimento de amizade e de solidariedade, que existe entre os colonos e o proprietário, queríamos extendermos enumerando factos que patentejam com o Cap. Antonio de Paiva Júnior, vae semeando afectos entre os seus subordinados, mas o pouco espaço nos impõe synthetisar esta relação. Limitamo-nos, assim, a manifestar que, a bem organisada colonia da "FAZENDA POSSES", vive em harmonia com o seu proprietário, satisfeita e agradecida pelo trato amavel, pelo carinho e pela alta consideração que o Cap. Antonio de Paiva Junior lhe dispensa.