Desaparecido, não me lembro quando nem porquê, o cimena do Sr. Chico Guilherme, ficamos sem a única diversão que tinhamos à noite e passamos novamene a aguardar tão somente a chegada dos circos.
Em 1924, porém, o arraial assistiu, com alegria, à inauguração do segundo cinema, este de propriedade do jovem João Batista de Sant'Ana, em um prédio constuiído para esta finalidade pelo seu pai, Sr. Zequinha Sant'Ana. Para os que não o conheceram explico que o cinema era ali mesmo, na Rua Barão de Lavras, em frente ao Clube Tabajara.
Era muito mais confortável do que o primeiro, por que não funcionava em um barração de pano e sim em prédio de tijolos, coberto de telha e, em lugar de bancadas feitas de tábuas sobre caixotes, bancos e até algumas cadeiras. O aparelho era um A.E.G. novido a eletricidade e o operador era o mesmo do cinema anterior, isto é, o Sr. Américo Dias de Oliveira. A orquestra, a princípio, era Zé Rezende e foi substituída depois pela clarineta do Sebastião Queiroz e o piston do Zé Músico.
Já éramos moços naquele tempo e o cinema se tornara para nós muito mais interessante. Havia desaparecido os filmes da Pathé Frères, com seu galos e tudo e em seu lugar estavam em moda os fimes americanos. Harold Lloyd, William Hart, Richard Talmadge, Luciano Albertini, Buck Jones, Tom Mix, e outros de que já não me lembro, eram nossos artistas prediletos.
Com a construção do prédio do cinema do João Sant'Ana os bailes, que antes eram realizados em casas de famílias, para lá se mudaram. O salão era amplo e se prestava muito bem para tal fim. Bailes de carnaval, bailes nas ocasições de festas ou de casamento, tudo era no salão de cinema.
E como eram animados aqueles bailes e que ordem não havia!
Em todos os bailes, lá estava o Capitão Francisco de Assis, o Chico do Pinhal, como era conehcido; muito alegre, amigo de todos, a idade não o impedia de dançar até altas horas da noite; lá se encontrava também o Licas, nosso marcador de quadrilhas, Luiz Galvão, Godofredo Caldeira e outraos que não não eram moços mas iam para o nosso meio, satisfeitos, folgazões, divertir-se conosco.
Como aconteceu com o primeiro, também o cinema de João Sant'Ana, creio que em 1930 ou 1931, cessou suas atividades. Mas o salão continuou a servir-nos de sala de bailes até que, lá por 1939, graças aos esforços dos Senhores Perci de Oliveira Vilela, Saul de Oliveira Vilela e Alaor Lima Reis, inaugurava-se o Clube Cachoeirense, hoje Clube Tabajara.
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
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