A aberta as malas trazidas por José Mariano, o povo reunia-se na agência do correio, procurando jornais e cartas e ansiosamente procurava inteirar-se das notícias para saber o que ocorria por esse mundo a fora. Principalmente durante a guerra de 1914 que, como a de 1940, abalou o mundo inteiro, todos esperavam com verdadeira aflição a chegada dos jornais.
Para que se tenha uma idéia de como era difícil contato com o resto do mundo ali pelo fim do século XIX e princípio do século XX, basta que se diga que segundo me contaram os mais velhos, a notícia da Proclamação da República chegou a Carmo da Cachoeira 60 dias depois do fato consumado.
E era assim que viviam os cachoeirense nos tempos passados. Mas tendo para mim que eles eram mais felizes do que nós, porque não levavam uma vida agitada como a nossa. Já disse alguém que o homem só inventa coisas para lhe dar trabalho e por isto mesmo hoje somos obrigados a nos desdobrar, a lutar sem descanso, em busca dos meios com que satisfazer as despesas que nos surgem de todos os lados. Naqueles "tempos do atraso", como se costuma dizer, não havia automóveis, nem cinemas, nem clubes, em rádios, nem televisão, nem outros muitos processos para gastar dinheiro. As viagens eram a cavalo os bailes eram em casas de família e o convidado nada gastava para se divertir; os circos apareciam de longe em longe, a iluminação era feita com lamparinas para querosene ou candeias com azeite de mamona, e deste modo nossos avós, se levavam aquela vida monótona, vegetativa, pelo menos viviam mais tranquilos, sem problemas financeiros, enquanto nós nos incorporamos à multidão dos que, no dizer de Albino Forjaz de Sampaio "vivem a pensar nas cento e uma maneiras de ganhar dinheiro, que lhes permitam sustentar as cento e uma maneira de o gastar".
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
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