E as serenatas, em noites escuras ou de luar, quando ainda não conhecíamos a luz elétrica? E as danças típicas dos pretos, realizadas todos os anos no dia 13 de maio, em comemoração à libertação dos escravos? Eu me recordo vagamente das filas de pretos, chefiados pelo velho Marciano e sua mulher Tia Chica, Vicência, Tiburção, Balbino da Filomena e Filomena do Balbino, e ainda outros de que já não me lembro a cantar e a dançar, expandindo alegria pelas ruas do arraial. Eles haviam conhecido o peso da escravidão e por isso mesmo sabiam dar valor à liberdade.
Essas danças desordenadas foram substituídas mais tarde pelas congadas. Formaram-se então três grupos ou três termos como eles diziam: dois no arraial, chefiados pelos irmãos Antônio e Domingos Baiano, Valentim, Sebastião Felipe, e um na fazenda dos Coqueiros, que tinha como porta-bandeira o preto velho Veríssimo.
Era de ver-se a animação, o entusiasmo dos pretos ao aproximar-se o dia 13 de maio. Dias antes, formados os três ternos, à paisana, conduziam, ao som de suas músicas e cânticos o mastro com a bandeira de São Benedito, fincando-o na frente da igreja. No dia 13 vestiam-se com as suas roupas coloridas, cada terno com a sua cor, e começavam pela madrugada seus cânticos e suas danças. Iam à missa, percorriam as ruas tirando esmolas para as despesas da festa, conduziam sua rainha à igreja e acompanhavam a procissão de S. Benedito.
O arraial era movimentado o dia todo e se enchia dos ruídos das caixas, dos reco-recos feitos de bambu, das sanfonas e violas, acompanhando o rítmo das cantorias, que entravam pela noite adentro.
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
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