Além da Escola Pública do Professor Pedro Juvêncio de Souza; hoje vamos tratar do outra instituição de ensino que, não obstante ter sido de pouca duração, deixou bons resultados e também dela nos recordamos com saudade: o Colégio Cachoeirense.
Foi em 1917 que, a convite do Sr. Antônio de Rezende Vilela, aqui chegava o Professor Arlindo Cruz e iniciava naquele velho casarão¹ que existiu na esquina das Ruas Artur Tibúrcio e Barão de Lavras, as aulas do Colégio Cachoeirense.
Arlindo Cruz era um professor por vocação; suas aulas eram profundas lições não só da matéria a que se referiam, senão também de civismo e de moral. Patriota extremado, não perdia ocasião de insuflar em seus alunos o amor da Pátria, o culto à sua História e aos seus homens ilustres. Ainda tenho bem presente na memória o entusiasmo com que repetia para nós as páginas do "Porque me Ufano do meu Pais", do Conde Afonso Celso.
Muitas vezes, no entusiasmo pela aula que nos ministrava, ele se esquecia de que a hora do café se escoara há muito e lá ficava de pé, frente às carteiras a fazer a sua preleção.
Certo dia, como Sr. Arlindo demorasse mais em suas explicações, o Chiquinho Chagas, que era da turma dos menores, começou a gemer. O Professor, sempre muito cuidadoso com os alunos, chegou-se a ele e perguntou sentindo alguma coisa.
"É minha barriga, Sô Arlindo" - respondeu o Chiquinho.
"Que é que está sentindo na barriga, Francisco?"
E o Chiquinho, cinicamente, fazendo com a mão os gestos significativos:
"Ah, Sô Arlindo. Ela tá fazendo assim: me dá comê, me dá comê. me dá comê."
Seria inútil dizer que, não obstante o respeito que tinhamos do professor, a disciplina foi quebrada e acolhemos a troça do Chiquinho com uma grande gargalhada. Sr. Arlindo, a princípio quis manter-se sério; mas em seguida começou a rir também e encerrou a aula, mesmo porque afinal o Chiquinho tinha razão.
O Colégio Cachoeirense prolongou-se até 1919; mas em 1918, por ocasião da terrível epidemia que ceifou a vida de muitas centenas de milhares de brasileiros e que foi conhecida pelo nome de "gripe espanhola", como medida preventiva e tal como vinha acontecendo no Brasil inteiro, o Colégio foi fechado e Sr. Arlindo retirou-se para sua terra, Lavras, onde pouco tempo depois passou pelo duro golpe de perder a irmã.
De 1918 a 1919, Colégio continuou, tendo à frente os irmãos Sebastião e João Zuquim. Mas já não era o mesmo dos tempos do Sr. Arlindo Cruz: a maioria dos primitivos alunos não voltou; a disciplina não era a mesma e os professores não tinham o tirocínio do Sr. Arlindo. Por tudo isto o Colégio foi decaindo e pouco tempo depois deixava de existir.
Éramos, no tempo do Sr. Arlindo, vinte e poucos alunos; e deste número nove já não existem²: Luís Gouvêa, Joaquim Naves de Rezende, Joaquim Marciano dos Reis, João Batista de Sant'Ana, Lamartini Ximenes de Oliveira, Dr. Matias de Vilhena, Luis Galvão Corrêa Filho, João Batista Nogueira (Baptista) e Jaci de Oliveira Vilela.
O Colégio Cachoeirense tornou-se assim uma coisa do passado e talvez somente aqueles que o frequentaram, guardem dele "uma recordação e uma saudade" .
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
Próxima matéria: Amor e sabotagem em um circo no Sul de Minas.
Matéria Anterior: A primeira escola: aulas na cadeia e palmatória.
1. A Casa a que o professor Wanderley se refere é a antiga residência dosubdelegado José Fernandes Avelino - o belíssimo casarão estilo colonial. A foto ao lado foi ofertada ao Projeto Partilha por Teresa Maciel Nascimento. Nela aparece um grupo de adolescentes que frequentaram a Escola, ainda neste local. neste local. A tomada foi feita na época do Pe. Manoel Francisco Maciel (1944-1965). A Escola ainda funcionava lá, nesta ocasião.Um dos alunos seria o futuro marido de Teresa Maciel.
2. O texto original foi publicado em 1975.
Comentários
fls.14 - População de 5 anos de vida e mais, analisadas do ponto de vista de Instrução:
* sabem ler e escrever no município, 2.173 e no Estado 1.868.515. Em nível percentual, 0,12%;
*não sabem ler nem escrever no município, 5.035 e no Estado 3.758.878. Em nível percetual, 0,13%;
*de instrução não declarada, no município 6 e no Estado 29.333, em percentual 0,02%
- INSTRUÇÃO PÚBLICA:Augusto de Azevedo Costa - professor;
*Blandina das Dôres - professora.
- INSTRUÇÃO PARTICULAR:
*Corolina Eulália de Oliveira, professora;
*Maria Amélia da Fonseca - professora.
- Fiscal Distrital - João Batista Fonseca.
- Correio - João Nestley - Agente
www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/
Magé (São Nicolau de Suruí, local de origem de Copacabana, na Baía da Guanabara é mais um fragmento ou peça presente em nosso foco e busca).
A Antiga Casa do Subdelegado José Fernandes Avelino serviu de Escola Particular e está ligada ao Pe. Manoel Francisco Maciel.