Foi lá pelo ano de 1933 ou 1934 que, conversando com alguns amigos, eu lhes dizia que já era tempo de pensarmos na criação do Município de Carmo da Cachoeira. Achavam eles que isto não seria muito fácil, porque não poderíamos contar com o apoio do chefe político e sem este apoio nada conseguiríamos. Respondi-lhes que iria pensar sobre o assunto, para ver qual o melhor caminho a seguir para tal finalidade.
Pouco tempo depois eu trocava idéias com José Godinho Chagas, que era o Escrivão de Paz do Distrito, com o Professor Pedro Juvêncio de Souza e com o vigário da paróquia, Padre Dr. Antônio Molina. Todos eles apoiaram a idéia com entusiasmo. Imediatamente eu e o Professor Pedro Juvêncio redigimos o cabeçalho de um abaixo assinado dirigido ao então Interventor Federal em Minas, Dr. Benedito Valadares Ribeiro, pedindo a criação do Município de Carmo da Cachoeira. Entreguei esse abaixo assinado a pessoa de minha confiança para colher as assinaturas e dois ou três dias depois mais de cem pessoas já o haviam assinado, o que demonstrava que os cachoeirenses estavam dispostos a marchar conosco e a lutar pela emancipação de sua terra.
O abaixo assinado, com elevado número de assinaturas foi remetido ao Interventor Federal que, passados alguns dias, mandava ao Sr. Antônio de Rezende Vilela, primeiro signatário do documento, um cartão em que dizia que "no momento oportuno o pedido do povo cachoeirense seria examinado com toda a simpatia". Era e talvez ainda seja hoje a redação das resposta a todos os quase todos os pedidos dirigidos aos homens da alta administração pública no Brasil. "Encaminhei o seu pedido ao órgão competente", "No momento oportuno seu caso será examinado com a maior simpatia", etc., etc., já não mereciam fé e ninguém mais acreditava nessas promessas nunca ou quase nunca cumpridas.
Naquela ocasião deve ter andado lá por trás o dedo de algum político contrário à nossa aspiração, porque o abaixo assinado não tornou a aparecer nem dele tivemos qualquer solução.
Voltando o Brasil ao regime constitucional, o Deputado Estadual de Passa Quatro, Artur Tiburcio, amigo de Carmo da Cachoeira e casado em segundas núpcias com uma cachoeirense, apresentou na Assembléia Legislativa um projeto de lei, criando o Município de Carmo da Cachoeira, projeto este que foi aprovado em primeira discussão e depois também desapareceu nas gavetas da Assembléia.
Foi mais uma tentativa infrutífera e porventura de novo o dedo daqueles a quem não convinha a emancipação de Carmo da Cachoeira.
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
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