O vadio, qualquer que fosse a sua cor, era a personificação do perigo. Perigo talvez maior que o provocado pelo quilombola, porque este estava nos matos, escondido nos Sertões. O vadio, ao contrário, vivia nas vilas, nos centros urbanos, cometia ataques à população e somente quando precisava, escondia-se nos Sertões. Daí, sua ameaça em potencial à sociedade. Através de sua não aceitação ao trabalho e ao domínio, colocava em risco a disciplina e a hierarquia, fundamentais ao controle social de uma região, por si só, bastante explosiva. Estes eram, em linhas gerais, os traços que caracterizavam os vadios.
Mas se olhados com maior atenção, percebe-se que havia outras particularidades inerentes ao grupo. Um traço sempre presente nos comentários sobre os vadios era a sua itinerância que não permitia o controle total, dando autonomia e, mesmo condições de sobrevivência àquele que era reputado enquanto vadio:
“... O homem pobre... permanece por muito pouco tempo num mesmo lugar. Sua característica marcante é a extrema mobilidade. Mover-se, em busca de melhores condições de sobrevivência, tornava-se uma atitude previsível e esperada...”1
Ainda que a autora esteja tratando dos homens pobres e não propriamente dos vadios, não há como negar que a itinerância era também parte integrante da vida destes grupos desprovidos de riquezas.
Em Minas do século XVIII, esta itinerância pode ser vista de diferentes maneiras: Havia os que perambulavam pela Capitania em busca de novas regiões para esmolar; os que paravam em determinados locais a fim de viverem da caridade ou mesmo de furtos e jogos; os que em nome da religião, conseguiam donativos e depois fugiam ou gastavam em bebidas, ou ainda aqueles que não conseguindo ou não querendo trabalho temporários nas fazendas, acabavam por cair na categoria de vadios.
Enfim, o leque para esta categoria era amplo e comportava uma gama variada de opções. Todavia, havia um traço comum a todos os vadios, a sua pobreza. Para as elites mineiras, o vadio era o miserável que além de nada possuir, esbanjava o que conseguia porque era um desregrado total.
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1 FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro; Nova Fronteira, 1998. P. 102
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