... o quilombo não era identificado como fazendo parte de um projeto de vida dos cativos. O escravo só fugiria se não tivesse um bom tratamento.
Estas mesmas colocações podem ser identificadas no poema a seguir de autoria de Joaquim José de Lisboa, alferes do Regimento Regular de Vila Rica:
“...Os escravos pretos lá
Quando dão com mau senhor
Fogem, são salteadores
E nossos contrários são
Entranham-se pelos matos
E como criam e plantão
Divertem-se, brincam, cantam
De nada tem precisão.
Mas ainda, que não criassem,
Ou que não fizessem roças,
Benignas as terras nossas.
Mil silvestres frutos tem.
E como eles sejam ágeis
Descobrem naquelas matas,
Carajú, cará, batatas,
E muito mel que há também.
Vem de noite aos arraiais,
E com indústrias e tretas
Seduzem algumas pretas,
Com promessas de casar
Elegem logo Rainha,
E Rei, a quem obedecem,
Do cativeiro se esquecem
Toca a rir, toca a roubar
Eis que a notícia se espalha,
Do crime e do desacato.
Caem-lhe os capitães do mato
E destróiem tudo enfim.
Ora ai vem o pobre preto
Entre cordas, prezo, e nu,
Vão lhe os bacalhaus ao c...
E o seu Reino acaba assim...”1
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1 LISBOA, Joaquim José de. Descripção curiosa das principaes produções, rios e animaes do Brasil, principalmente da Capitania de Minas Gerais. Lisboa, na Impressão Regia, 1806.
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