Diante a presença constante dos grupos quilombolas, [eles passaram a ser] vistos como elementos capazes de perturbar o sossego público e no caso do Sertão, impedir o avanço da civilidade e do povoamento.
Se o Sertão era uma área de perigos reais, estes em muitos momentos eram causados pelos negros fugitivos que lá viviam. Como a inserção desta região se fazia cada vez mais necessária, inúmeras tentativas ocorreram visando à liquidação destes grupos. Contudo, sempre foram inúteis. Quando muito, conseguiam aprisionar alguns poucos escravos ficando a grande maioria dispersa nas matas. Em toda a documentação percebe-se que havia um clima de terror provocado por estes negros não só na população que vivia por perto, mas também entre os próprios participantes das expedições que buscavam acabar com os quilombos e com os quilombolas.
“...neste mesmo lugar senti um notável enfadamento porquanto todos os principais homens que me acompanhavam e tinham por exercício a frequência nos matos, entraram a difundir pelo mais povo uma voz vaga de que estávamos mui vizinhos a mais fortes quilombos de negros e que havia um que só esse tinha mais de duzentos e que já os mesmos negros andavam na nossa escolta explorando as nossas forças e que este projeto hera infalível porque os vestígios que deles tinham encontrado assim o certificavam entrarão logo todos a ficar pavorosos e com repetidas lamentações prezaguravão uniformes a sua desgraça.”1
Durante muito tempo foi sendo formada uma visão sobre o quilombola que passava por uma proximidade com os animais e com a natureza, considerada local de descaminhos e fora do controle social e religioso. A notícia da presença de quilombolas numa região qualquer gerava quase sempre atitudes de medo e de auto proteção por parte das pessoas.
Este pânico pode ser verificado de várias maneiras na documentação: uma forma seria a identificação de várias cartas pedindo socorro, armas e munições para se resguardarem dos possíveis ataques quilombolas; um outro caminho seria a verificação do número de sesmarias abandonadas e outras nem mesmo assumidas, em função do medo dos ataques; por último, mas talvez a melhor maneira de identificarmos o poder deste pânico, seriam as constantes expedições enviadas aos Sertões com o objetivo claro e específico de combater quilombolas.
Ainda que os quilombolas fossem para os mineiros o foco constante de suas inquietações, não foram os únicos. Os indígenas também contribuíram muito para os medos desta população, assim como os vadios, ou seja, aqueles que de uma forma particular estavam, da mesma maneira, fora do controle social. Os vadios representavam uma outra forma de perigo, posto que conviviam muito perto da população, ao contrário dos demais grupos que se isolavam ou tentavam se manter afastados o máximo possível.
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1 Carta de Ignácio Correia de Pamplona ao Governador Valladares , Em 15.11.69. Arquivo Conde de Valadares (Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos) 18,2,6
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