Não possuímos nenhum documento a respeito da primeira capela e do cemitério de Carmo da Cachoeira pois, que saibamos, nada existe de positivo em livros antigos de cartórios ou da diocese. Todavia, poderemos daterminar mais ou menos a época em que se iniciou o povoamento da localidade, baseados em fatos de que temos conhecimento e que passamos a comentar.
No dia 15 de novembro de 1844, faleceu em sua Fazenda do Couro do Cervo, ex-Retiro, o Capitão-Mor Manoel dos Reis e Silva. Sobre o local onde foi ele sepultado há várias opiniões: uns dizem que o corpo foi transportado para Três Pontas, visto não haver cemitério nestas redondezas; outros, como Benefredo de Souza, no seu já citado "estória... ou História do Sete Orelhas?!...", acham que ele, como era seu desejo, devia ser sepultado em Lavras do Funil. No entanto sua morte se deu no verão, época das grandes chuvas e das enchente, rios e ribeirões transbordados, o que impossibiliva serem vadeados. Sua família deliberou então sepultá-lo nas imediações, nas terras de uns italianos, os Rattes, ali moradores há alguns anos. Assim foi feito, com o consentimento de todos e o local foi tão bem escolhido e apropriado, que dali por diante se tornou quase cemitério público.
Entre opiniões tão divergentes, preferimos fiar com Ari Florenzano que nos informa, com a sua autoridade de pesquisador de fatos antigos, que o Capitão Manoel dos Reis e Silva foi sepultado no cemitério, ou melhor dizendo, dentro da Capela de S. Bento, que já existia bem antes de 1780. De fato, o cemitério daquele povoado era dentro da capela e ao seu redor, onde ainda nos lembramos de ter visto, lá por 1915, pedaços de túmulos fora da capela e, dentro, o assoalho era feito de tábuas largas, nas dimensões de uma sepultura e nas quais eram escritos, por fora, os nomes e os dados referentes às pessoas ali enterradas.
Se a velha capela não tivesse sido desmanchada, ainda poderíamos encontrar naquelas tábuas, que representavam uma espécie de lousas tumulares, os nomes de muitas pessoas importantes dos tempos antigos, nomes que tivemos ocasião de ler algumas vezes, mas dos quais não nos recordamos, porque éramos criança e ainda não nos interessava conhecer nada sobre o passado de nossa terra.
Do acima comentado podemos depreender que, pelo menos até novembro de 1844, não havia na Cidade de Carmo da Cachoeira nem capela nem cemitério; do contrário, o corpo do Capitão Manoel dos Reis e Silva não teria sido conduzido para tão longe para ser sepultado.
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
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