Um outro tipo de informação que pode ser retirada dos anúncios [de escravos fugidos] refere-se ao estado de saúde dos escravos fugidos. Ao fornecerem dados que permitissem identificar seus escravos, os senhores acabaram por indicar os aspectos ligados à saúde. Através de doenças, cicatrizes, marcas de doenças e condições psicológicas pode-se traçar um esboço do que seria a saúde destes cativos.
Entretanto, é necessário salientar que os anúncios apresentam inúmeras limitações, como por exemplo, o uso de termos nada precisos. Um grande problema desta fonte é que por constituir-se de linguagem leiga ou popular, a precisão dos termos das patologias é reduzida e são empregados termos de sentido equivalente, como, “bexiguento”, “bexigoso” e “com bexigas”, que aparecem tantas e tantas vezes nos anúncios. Essas informações dadas sobre os escravos fugidos, por exemplo, não indicam necessariamente que se tratava de doentes ativos e portadores do vírus da varíola, podendo ser casos superados em que a doença deixou suas marcas. O lógico seria imaginar que se referem apenas às marcas, pois dificilmente um escravo com a doença e, portanto, em condições de saúde bastante precárias, tivesse condições de empreender tão arriscada atitude como a fuga.
Mas mesmo assim tal fonte pode se tornar útil como introdução ao conhecimento das condições físicas dos escravos que procuravam a fuga como uma alternativa de vida.
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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