Nem sempre as imagens que foram construídas para os escravos fugitivos foram tão positivas. Há aquelas que os associam claramente aos animais ou com características físicas depreciativas e, portadoras de uma estética preconceituosa e segregadora. Novamente o anúncio do escravo José Custódio será utilizado. Ele fugiu no Rio de Janeiro, mas seu anúncio circulou em Minas Gerais, provavelmente por que seu senhor tinha alguma razão para pensar que ele poderia ter buscado ajuda em terras mineiras. José Custódio é assim descrito pelo anúncio:
“... estatura baixa, cara feia, e mal feito de corpo... olhar de porco...”1
Gregório, outro escravo anunciado, também não teve melhor descrição: Tratava-se de alguém “...mal encarado no aspecto...”2 .
Assim como um outro escravo também africano, que foi descrito por sua senhora como possuidor de um “...semblante carregado...”3
Florentina, africana de Moçambique, foi descrita como tendo o “...andar aperiquitado...”4
Em todos estes anúncios, o que se percebe são as tentativas, por parte dos senhores, de aproximar os fugitivos a uma realidade animalesca ou grotesca, retirando deles qualquer indicativo de humanidade.
Esta humanidade porém, podia ser visualizada de uma outra maneira se alguém acompanhasse os anúncios dia-a-dia. Uma das formas encontradas pelos escravos de mostrar reiteradamente sua humanidade foram as fugas sucessivas ou em direção a locais onde viviam no passado, o fingir-se forro e mesmo, os assassinatos de seus senhores.
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2 Idem 12.6.1826
3 Idem 11.11.1831
4 Idem 1.8.1832
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