Cachoeira, 25 de setembro de 1933.
Carta aberta a otávio Alvarenga.
Pezado Otávio,
Grande foi a surpresa que me causou a leitura do teu "Bilhete a Ninon", porque, conquanto viesse notando há muito, através dos teus trabalhos literários, que ias descambando para o pessimismo, bem longe estava de supor que tão rápida fosse a tua queda.
De fato parece que deixaste o mundo idealista, onde formosas vicejam as ilusões da juventude e muito cedo penetraste este outro mundo, tão diferente, onde reina despótica a mais crua e martirizante realidade. Martirizante, sim, que o conhecer como ele realmente é, este mundo que habitamos, não é pequeno martírio para as almas ainda adolescentes que para ele vieram, trazendo o coração repleto de sonhos, de ilusões, de esperanças quase sempre irrealizáveis. Se realmente vinhas mantendo em teu espírito um mundo de ilusões, como sói acontecer às criaturas ainda no verdor dos anos, reconheço que grande deve ter sido a tua decepção ao despertares para as realidades da vida.
Mas, atente: o que te invadiu prematuramente o ser, não foi o tédio, como pensas: foi o conhecimento exato da vida; foi a certeza de que a vida, como disse Vargas Vila, é um poema de Dor; de que a nosso existência, na expressão do grande poeta Vicente de Carvalho, "nada mais é que uma grande esperança malograda"; foi, enfim, a Verdadeira Ciência que te invadiu o ser.
Sim, Otávio, porque quanto mais livre se torna uma pessoa pela cultura da inteligência, quanto mais sábio se é, tanto mais se vai afundando nos abismos da Dor. Portanto, sê triste, sê pessimista, porque esse é o fim de todo homem inteligente e culto; mas nem por isso deves deixar a luta e abandonar a literatura. Se não queres ou não podes cantar as efêmeras belezas das coisas do mundo, analisa a vida; disseca o homem moral e material e põe-lhe à mostra o nada que ele é; transforma tua pena em azorrague e chibata-lhe sem dó nem piedade o egoísmo, a ambição, a vaidade e a hipocrisia, certo de que, assim procedendo, estarás contribuindo com a tua parte para o aperfeiçoamento da humanidade futura.
Escrevendo sobre o grande filósofo Raimundo de Farias Brito, diz Jackson de Figueiredo em seu livro "Algumas Reflexões sobre a filosofia de Farias Brito":
"A vida em derredor o angustia, está convencido de que imperam atualmente os dogmas do desespero mas apesar de tudo isto e até de reconhecer que assim vimos todos do - de um abismo para outro de que a vida foi sempre esta luta desesperada, uma sorte de amor sádico da espécie, ele é o filósofo otimista, crê em nosso aperfeiçoamento, na conquista do universo pelo espírito, cada vez mais poderosamente armado com a verdade, trabalha com afinco nesta missão suprema da filosofia, como solução do problema da existência"
Pois bem, Otávio. Sejamos como Farias de Brito: soframos com a presente condição da humanidade mas, e apesar ainda do nosso pessimismo, olhos fitos no porvir, lutemos com todas as nossas forças pela perfeição das gerações futuras.
Abraça-te o amigo e admirador sincero,
Prof Wanderley Ferreira de Rezende
trecho do Livro: Carmo da Cachoeira: Origem e Desenvolvimento.
Próxima matéria: Algumas palavras sobre o livro do prof. Wanderley.
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Comentários
"Tomé de Sousa (RATES, 1503 - 1573 ou 1579) (...). Em RATES, foi o primeiro titular da comenda da Ordem de Cristo em 1517, após a desorganização do MOSTEIRO DE RATES.
Trabalho de pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - (Marinha Grande - Portugal). dez/2006.
Cf http://www.sokarinhos.com.br/Historia/histbr_05.htm