As imagens que a sociedade colonial e depois, a brasileira, criou sobre os cativos eram oriundas, na realidade, de tempos remotos, dos séculos XV e XVI, quando os europeus e, mais precisamente, os portugueses tiveram os primeiros contatos com o mundo africano.
Todas estas imagens que associavam os negros a seres inferiores, disformes, primitivos e outros adjetivos pejorativos, permaneceram no decorrer do tempo e, ainda no século XIX podiam ser encontradas no discurso cotidiano da população. A longa duração neste caso, é essencial para a percepção desta manutenção de imagens negativas sobre a população negra. É ela que, segundo Vainfas, “...permite acompanhar a lenta maturação das idéias, revelando-nos o movimento, mas também a inércia...”1
É em busca desta maturação das idéias sobre os negros que serão analisados os anúncios de um jornal mineiro intitulado “O Universal”. Os anúncios foram publicados entre 1825 a 1832, perfazendo durante estes sete anos, um total de 65 anúncios. O objetivo neste momento não é fazer um levantamento exaustivo deste tipo de fonte. Na realidade, pretende-se apenas fornecer um pequeno panorama acerca de como esta sociedade lidava com seus escravos fugitivos e, principalmente, identificar através dos anúncios, a visão produzida e perceber a permanência das idéias anteriores na construção de imagens sobre escravos fugidos no decorrer do tempo.
Pode-se dizer que o jornal tem um perfil que tende à crítica ao governo monárquico. São comuns as notícias de Paris e as sátiras ao governo, mostrando suas deficiências e inoperância. Entretanto, as matérias mais agressivas são sempre assinadas por pseudônimos e o jornal faz questão de deixar claro que não tem qualquer tipo de responsabilidade sobre elas.
Os anúncios de escravos fugidos estão colocados, quase sempre, na última página com a caixa e a letra um pouco menor que o do restante do periódico. Eles aparecem com o título “aviso” ou “anúncio”.
Nos 65 anúncios publicados, identificou-se um total de 106 escravos fugidos. Destes, 99 referiam-se a cativos do sexo masculino (93,40%) e apenas 7 eram mulheres (6,60%).
Sexo | africanos | crioulos | total |
homens | 54 | 38 | 99 |
mulheres | 5 | 2 | 7 |
total | 59 | 40 | 106 |
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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