Carolus Linneu ficou célebre por ter integrado o homem em um sistema classificatório, inserindo-o no reino animal e denominando-o de homo sapiens. Como um ser de sua época, acreditava que cada categoria de “homem”, possuiria características físicas e culturais que a diferenciaria das demais. Entretanto, estas características eram dotadas de visões estereotipadas e totalmente eurocêntrica.
Pratt cita a classificação feita por Linneu em 1758, onde ele teria distinguido cinco variedades humanas:
1. “Homem selvagem. Quadrúpede, mudo, peludo;
2. Americano. Cor de cobre, colérico, ereto, cabelo negro, liso, espesso,; narinas largas;
semblante rude; barba rala; obstinado, alegre, livre. Pinta-se com finas linhas vermelhas. Guia-se por costumes;
3. Europeu. Claro, sangüíneo, musculoso, cabelo louro, castanho, ondulado; olhos azuis;
delicado, perspicaz, inventivo. Coberto de vestes justas. Governado por leis;
4. Asiático. Escuro, melancólico, rígido; cabelos negros; olhos escuros; severo, orgulhoso, cobiçoso. Coberto por vestimentas soltas. Governado por opiniões; e
5. Africano. Negro, fleumático, relaxado. Cabelos negros, crespos, pele acetinada; nariz
achatado, lábios túmidos; engenhoso, indolente, negligente. Unta-se com gordura. Governado pelo capricho.”
A primeira constatação que se pode fazer desta classificação é a de que o Homo Sapiens era, para Linneu, não só passível de ser separado em categorias, como também se poderia identificar em cada um dos grupos, características negativas e positivas no que tange aos aspectos físicos, culturais e morais. As características apresentadas por Linneu deixam transparecer que mesmo para um homem das Luzes, o pensamento sobre as diferenças entre as sociedades não era algo aceito como natural.
Percebe-se na classificação acima apresentada que, quando o objetivo de Linneu era fornecer dados sobre a conduta e os valores de cada um dos grupos, com exceção do homem europeu, todos os outros eram rotulados com palavras pejorativas: são coléricos, rudes, melancólicos, orgulhosos, cobiçosos, relaxados, indolentes, preguiçosos. Os europeus, ao contrário, são delicados, perspicazes e inventivos. Com relação à forma de governo, ou melhor dizendo, de controle e ordenamento sociais, os europeus são os únicos possuidores de leis. Todos os demais são regidos por entidades abstratas: costumes, opiniões, caprichos.
Trata-se, sem dúvida, de uma classificação comparativa e que mostra o europeu como o único grupo civilizado. Ele, além de possuir leis, é, de acordo com a classificação, inventivo. Daí, o progresso alcançado pela sociedade européia. Desta forma, estaria justificado o controle sobre as áreas menos evoluídas, em nome do avanço do progresso, da razão e da civilização. As diferenças entre as categorias humanas seriam tão grandes em alguns elementos que Linneu chegava ao ponto de questionar sua crença no monogenismo: “... seria difícil alguém persuadir-se de que eles saíram da mesma origem...”
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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