Os Caitaguás ou Caitaguases, outro grupo indígena da região de Minas Gerais, habitavam o Centro, o Oeste e o Sul de Minas Gerais até o século XVIII e segundo Oillan Junior1, foram os que “sofreram mais rudemente a ação escravizadora dos bandeirantes do ciclo paulista...”2. Além do que:
“...Sem meios para se oporem aos avanços dos rudes e indomáveis homens das bandeiras, acabaram vencidos, exterminados no próprio solo que ocupavam ou, em hipótese mais feliz, levados como prisioneiros para a orla marítima...” 3
Em 1773, o rei português decretou que, diante das constantes reclamações contra estes índios, estava estabelecida a Guerra Justa:
“... Sua Magestade, que Deus guarde atendendo as devassas e representações que se lhe mandarão sobre as mortes, roubos e insultos que tem feito os gentios Payaguazes [Cataguases] e mais bárbaros que infestam essas Minas e o seu caminho foi servido mandar lhe dar guerra para a qual manda assistir com armas. pólvora e bala e os mais petrechos necessários declarando a todos os gentios que se aprisionarem por cativos e que estes sejam repartidos pelas pessoas que se empregarem na dita guerra...” 4
Há uma grande diferença entre o que é pensado e o que é feito. O índio que precisava e merecia ser aldeado era aquele considerado manso, ou seja, o que aceitava pacificamente ser explorado economicamente pelos fazendeiros da região. Os que não aceitavam, sofreram processos de extermínio:
“... e quando este gentio se mostre renitentes aos amigáveis persuasões que se lhe fizerem e sem atenção se queiram levantar e opor com violência neste caso, e justamente deve usar das armas para sua defesa.”5
“... creia me v. Ex.a. propriamente as minhas suplicas que enquanto senão extinguir estes bárbaros gentios receio muito a povoação da terra.” 6
A questão da escravização destes grupos humanos foi um dos fatores responsáveis pelo processo de extermínio pela qual passaram, e também por um paulatino esvaziamento demográfico da região. Isto não ocorria apenas em Minas Gerais. As regiões do Grão-Pará e Maranhão também passavam por um processo semelhante, também causado pela diminuição dos grupos indígenas. Mendonça Furtado, Governador e capitão general do Estado do Grão-Pará e Maranhão, em uma de suas muitas cartas a seu irmão Pombal, afirmava que as tropas de resgates, tão em voga na região, eram na realidade, um grande problema, porque além de enganarem os índios e os aprisionarem para vendê-los como escravos, serviam também para “... ser uma das principais causas de se despovoarem as terras dos domínios de Sua Majestade e de em conseqüência, fazer mais poderosos aos nossos confinantes...”. 7
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1 JOSÉ, Oillan. Indígenas e Minas Gerais. Aspectos sociais, políticos e etnológicos. Belo Horizonte: Edições Movimento-perspectivas. 1965. P. 11 e ss
2 Ibidem
3 Ibidem p. 19 4 Carta do Conde de Serzedas para Antonio Pires de Campos 15 de outubro de 1733 1,
4,1 Papeis Vários Documento 18 - Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos
5 Instrução e despedição que faz desta Estancia de São Simão do Rio da Ajuda da ordem do Ilmo Exmo Sr Conde de Valadares e General da Capitania de Minas Gerais, no dia 4 de setembro de 1769 Arquivo Conde de Valadares -Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos- 18,2,6
documento 3
6 Carta de Ignácio Correia de Pamplona ao Governador Valladares , em 15 de novembro de 1769 Arquivo Conde de Valadares -Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos- 18,2,6. Documento 19
7 Carta de Francisco Xavier de M. Furtado ao Marquês de Pombal. In: MENDONÇA, Carneiro de M.(org). A Amazonas na Era Pombalina. Correspondência inédita do Governador e Capitão General do Estado do Grão Pará e Maranhão- Francisco Xavier M de Furtado, 1751-1759. Rio de Janeiro, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1963. 28 ª Carta p. 290 e ss.
documento 3
6 Carta de Ignácio Correia de Pamplona ao Governador Valladares , em 15 de novembro de 1769 Arquivo Conde de Valadares -Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos- 18,2,6. Documento 19
7 Carta de Francisco Xavier de M. Furtado ao Marquês de Pombal. In: MENDONÇA, Carneiro de M.(org). A Amazonas na Era Pombalina. Correspondência inédita do Governador e Capitão General do Estado do Grão Pará e Maranhão- Francisco Xavier M de Furtado, 1751-1759. Rio de Janeiro, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1963. 28 ª Carta p. 290 e ss.
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