Por causa da festa só deram falta de Pedro Rebolo na segunda-feira. Vários grupos partiram ao seu alcance com ordens para matá-lo. Nada conseguiram. Pedro Rebolo chegou em Vila Rica e lá revelou sobre o gigantesco quilombo.
A partir daí iniciaram-se os preparativos para a guerra contra o quilombo, considerado pelas autoridades mineiras como impossível de ter sido construído por “...simples negros boçais, de rudes calhambolas; com toda a certeza eram os jesuítas que, corridos do Rio de Janeiro, da Bahia, de S. Paulo, lá se haviam reunido e, fortes como estavam, não tardaria muito que viessem contra o governo mineiro, contra todo o Brasil...”
Na concepção das autoridades, os negros, inferiores por natureza, não poderiam ter construído tão adiantado núcleo sozinhos. A participação dos jesuítas que, naquele momento eram tidos como inimigos públicos, era fundamental ao projeto daquele quilombo.
As preparações para a grande guerra iniciaram rapidamente e “...começaram os preparativos bélicos, os aprestos para uma grande, nunca vista expedição, que tinham delineado, com todo o aparato possível, para o sertão mineiro; mas tudo debaixo de tal sigilo...”
Para manter o sigilo das expedições, as autoridades explicavam que a montagem de tal esquema militar era, ora para combater os estrangeiros que ameaçavam invadir o Rio de Janeiro a partir de Montevidéu, ora para liquidar os índios ferozes do Rio Doce.
Novamente entra em cena o ex-jesuíta, ex-padre secular, ex-traficante, ex-escravo e finalmente, soldado raso. Sabedor da expedição, Caturra quis, de diferentes maneiras, avisar aos negros no quilombo, nada conseguindo. Ao contrário, fez parte da tropa que seguiu em marcha. Os chefes da expedição ganhariam quatro oitavas de ouro em pó por cada quilombola morto enquanto que seus ajudantes receberiam 400 réis.
Três meses depois, a expedição partiu com 3000 homens entre pedestres, comandantes, índios e capitães do mato. Estes eram homens que sabiam: “...trepar nas árvores como macacos, nadar como lontras, correr como veados; por instrução ser bom feiticeiro; rezar o credo em cruz; saber tomar parte com o diabo, na noite de S. João; matar com veneno; chamar cobras com assobios; rezar a oração de S. Marcos; passar por entre cães de fila, sem estes latirem; em fim e ai estava a supra suma do valor – saber de um só golpe decepar uma cabeça! E eram os senhores de baraço e cutelo e seu mais estupendo triunfo era trazer o maior número possível de orelhas das vítimas que sacrificavam, na fúria do canibalismo, ficando memorável a expedição em que o triunfo subiu a três mil e novecentos pares de orelha...”
Enquanto a tropa se preparava, iniciaram no quilombo as decisões sobre o que fazer. Ambrósio, esquecendo-se de seus conflitos com os jesuítas, buscou ajuda e concordaram que a melhor saída seria abandonar o quilombo, e voltarem todos ao aldeamento de Sant’Anna. Entretanto, o povo de Ambrósio não aceitou o acordo, temendo que os padres os fizessem novamente escravos e decidiram lutar por sua liberdade.
texto de Marcia Amantino.
Próximo texto: O ataque ao quilombo de Ambrósio.
Texto Anterior: Dois Jesuítas e um negro.
Algumas citações que aparecem neste trabalho a respeito do Rei Ambrósio são oriundas de um texto de Gama, conforme trecho deste blog de 25 de maio de 2008.
Obs do prof Tarcísio José Martins: Reitero, de novo. Isto não é história. É um conto, um romance, de um autor chamado Joaquim do Carmo Gama. O texto NÃO informa que se trata de um conto, copiado pela Sra. Márcia Amantino. Isto é danoso para o conhecimento de nossas crianças. Divulgue o conto, mas registre em todas as páginas que é só um CONTO.
Comentários