Cobiçosos por encontrarem o grande tesouro, o comandante e seus soldados partiram ao seu encalço. Mas ao pressentir que o ataque seria iminente, Ambrosio retirou todo o ouro guardado em sua morada e o escondeu em pontos diferentes na mata. Ao morrer, levou consigo o segredo da localização exata.
Depois de muito procurar sem sucesso, descobriram entre os sobreviventes aquele que era o responsável pela guarda do tesouro, Manoel Cabinda acompanhado de sua mulher, Catarina, ambos comprados e depois alforriados por Ambrósio de um jesuíta que vivia no Rio de Janeiro e que havia fugido anos antes para Minas Gerais com todos os outros escravos. Estes dois escravos haviam chegado ao quilombo comprados por um dos auxiliares de Ambrósio.
O comandante das tropas propôs a Manoel Cabinda que lhe mostrasse onde estavam as riquezas em troca de liberdade para si e para sua mulher. Cabinda explicou o que Ambrósio fizera com o tesouro e que somente poderia ajudá-los participando também da busca. Na realidade, isto era um plano de vingança tramado juntamente com sua mulher.
Enquanto Cabinda fingia ajudar aos inimigos, Catarina interessava-se falsamente por Pedro Rebolo, responsável pela destruição do quilombo. Todos já percebiam o quanto Pedro Rebolo estava desrespeitando Cabinda e cobravam uma atitude. O capitão da tropa, Feliciano, era um destes e ao exigir uma reparação de Cabinda, ouviu a resposta de que ele de bom grado mataria Pedro Rebolo se alguém o ajudasse. Para convencer mais facilmente ao capitão, ofereceu-lhe uma bolsa de couro de ema cheia de moedas.
Depois de tudo combinado, Cabinda autorizou Catarina a marcar um encontro com Pedro Rebolo. Na hora exata, Cabinda e Feliciano o agarraram e logo depois, eu Catarina saía do mato:
“...Toda de branco, lenço á cabeça, fita vermelha a tiracolo, machadinha á cinta, ricos sapatinhos com fivela. Catharina mereceu as saudações de uma verdadeira uri e, por entre admiração e aplausos, caminhou certa para o criminoso, de cujas penas ela ia ser o juiz. Falando em africano, entregou a machadinha a seu marido e enquanto era preparado o instrumento que escolhera para castigo do traidor, ela frágil, mas sedutora, espicaçava o resto da consciência da vítima, aplicando-lhe no rosto a ponta de seus sapatinho !... Catharina não era mais mulher dos carinhos, não era a suposta esposa infiel, não era a simples negra: era a própria deusa da vingança. E a negra, nesse belo-horrível que não se descreve, transformada em justiça, não cessava de golpear com a ponta de seus sapatos a face de Rebollo, repetindo a cada golpe: eu sou Ambrósio; eu sou Cândida; eu sou Wrumeia; eu sou Hynnhanguera; eu sou o povo todo a quem mataste pela traição! Com as mãos nos quadris, feroz na vingança, voluteando, a negra era o símbolo das fúrias cavernais. O castigo merecido pelo traidor fora a empalação...”
Enquanto matavam Pedro Rebolo diziam:
“...Cortemos-lhe os pés, para que não vão mais a Vila Rica nos denunciar; as mãos, para que não façam mais sinais no pauzinho; a língua, para que não fale; as pálpebras, para que tenha abertos sempre os olhos e contemple o mal que nos fez. E os membros mencionados caiam aos rudes golpes da machadinha empunhada pelo negro...”
Durante três meses a expedição permaneceu no sertão procurando o tesouro de Ambrósio. Porém, nada encontraram...
“... O mais famoso dos quilombos em Minas Gerais, o Quilombo do Ambrósio, era oficialmente designado como Quilombo Grande. Depois da destruição do Quilombo e morte de Ambrósio, renasceu mais forte e mais poderoso, com a mesma denominação de Quilombo Grande, embora, às vezes, aparecesse na correspondência oficial, a designação popular de Quilombo do Ambrósio...”
texto de Marcia Amantino.
Algumas citações que aparecem neste trabalho a respeito do Rei Ambrósio são oriundas de um texto de Gama, conforme trecho deste blog de 25 de maio de 2008.
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