O quilombo funcionava de maneira organizada, suas leis eram severas e os atos mais sérios eram julgados na Aldeia de Sant’Anna pelos religiosos. O trabalho era repartido com igualdade entre os membros do quilombo, e de acordo com as qualidades de que eram dotados, “... os habitantes eram divididos e subdivididos em classes... assim havia os excursionistas ou exploradores; os negociantes, exportadores e importadores; os caçadores e magarefes; os campeiros ou criadores; os que cuidavam dos engenhos, o fabrico do açúcar, aguardente, azeite, farinha; e os agricultores ou trabalhadores de roça propriamente ditos...”
Todos deviam obediência irrestrita a Ambrósio. O casamento era geral e obrigatório na idade apropriada. A religião era a católica e os quilombolas, “...Todas as manhãs, ao romper o dia, os quilombolas iam rezar, na igreja da frente, a de perto do portão, por que a outra, como sendo a matriz, era destinada ás grandes festas, e ninguém podia sair para o trabalho antes de cumprir esse dever religioso, para o qual o sino dava o sinal conhecido...". “...As aspirações daquele povo limitava-se ás festas dos sábados e domingo, á pesca, á caça e, sobretudo ás danças em que aluá, servido, a vontade, levantava os espíritos nos mais chorosos devaneios...”
Por causa de um acordo feito entre Ambrósio e os Jesuítas, o quilombo não poderia receber escravos fugitivos da Aldeia de Sant’Anna e nem roubar outros. Entretanto, não era bem assim que o quilombo funcionava e isto provocou algumas rupturas com a aldeia jesuítica. Assim, sob estas leis e o domínio de Ambrósio, o quilombo cresceu absorvendo centenas de pessoas que vinham de todos os lados, inclusive, contrariando as regras, os escravos dos religiosos. Isto gerou
problemas sérios entre as duas lideranças e as relações acabaram sendo rompidas. Neste momento, a população do quilombo já estava em torno de cinco mil habitantes, de ambos os sexos e de todas as idades.
O interior do quilombo era dividido espacialmente como uma cidade qualquer, sem contudo, esquecer os elementos protetores da estrutura quilombola.
“...Os primeiros estabelecimentos foram duas igrejas, a residência do chefe, o palácio, como diziam, a cadeia, o engenho e mais dependências de uma grande fazenda. Ao redor deste edifício foram-se erguendo habitações, que respeitavam a praça e as ruas... A cidade ou quartel ambrosiano estava colocada em um lindo descampado, no encontro de dois córregos, que forneciam grande abundância de água, tanto para o consumo público, como para os engenhos, moinhos e outros mecanismos. Circulava-o um valo com a extensão de uma légua em circunferência largo e profundo, eriçado no centro com pontiagudas estacas de aroeira do sertão, cuja rijeza o durabilidade são legendárias: acima do valo e acompanhando todo este, a guisa de muralha, levantava-se um terraço de oito palmos de altura por dez de largura: um só portão, junto ao qual havia uma ponte levadiça, dava acesso á cidade, que era um perfeito arremedo das antigas cidades fortificadas. Logo ao pé do portão havia uma igreja e dali seguia a rua principal, até ao grande largo ou praça, onde se erguiam as torres de um belo templo com seu campanário; palácio real ou residência do Ambrósio; a cadeia com seu grande pátio fechado, por grossos muros; o patíbulo, e os mais importantes edifícios. O portão era de duas bandeiras, muito largas e cosidas com grossas chapas de ferro. O erário público era no palácio...”
texto de Marcia Amantino.
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Texto anterior: O escravo Ambrósio.
Obs do prof Tarcísio José Martins: Reitero, de novo. Isto não é história. É um conto, um romance, de um autor chamado Joaquim do Carmo Gama. O texto NÃO informa que se trata de um conto, copiado pela Sra. Márcia Amantino. Isto é danoso para o conhecimento de nossas crianças. Divulgue o conto, mas registre em todas as páginas que é só um CONTO.
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