As definições para o termo Sertão são vastas e sofreram, desde o século XVI, processos que buscaram incorporar concepções diversas aos significados primários do termo. Entretanto, algumas características intrínsecas a este conceito podem ser identificadas, ainda que em momentos históricos diferentes. Uma delas remete ao aspecto geográfico, associando Sertão à região oposta ao litoral. Todavia, esta definição não delimita onde começaria o Sertão, apenas o relaciona com o interior do continente. A segunda, identifica-o como sendo um lugar onde a civilização ainda não teria chegado, ou o processo civilizatório não estaria totalmente efetuado. Esta região, portanto, não seria nem uma área civilizada e nem impossível de ser conquistada e trazida à civilização.
O sertão tem uma característica: a de ser uma área de fronteira, assim definida por Amado: “ ... regiões em processo de conquista e de integração à nação, onde foi comum duas ou mais culturas se encontrarem ou confrontarem...”
Assim, o Sertão é também uma fronteira interétnica, isto é, área que é transformada, por excelência, em local de trocas ou de imposições culturais de um grupo sobre o outro, e de estratégias diversas de resistências culturais e avanços desta mesma fronteira. Seja como for, o Sertão, enquanto um espaço de conflitos e disputas era, consequentemente, uma área de mortes, mas era também uma região que propiciava sobrevivências físicas e culturais quase sempre dos mais aptos tecnologicamente.
Foi justamente nesta zona de fronteira que o contato entre brancos, mestiços, escravos fugidos ou não, e índios se deu em Minas Gerais durante o século XVIII.
O Sertão em Minas Gerais pode ser identificado, dependendo da época, em várias regiões. Aqui se buscou analisar o Sertão Oeste, ou seja, a região que parte de São João Del Rei em direção à Goiás.
Entretanto, os limites temporais não estão rigidamente delimitados. O século XVIII é o momento predominante, todavia, as permanências mentais que nortearam as vidas das pessoas envolvidas, de diferentes maneiras e nas várias atividades que este trabalho busca recuperar, não permitem a reclusão em seus limites. Por diversas vezes, recuos ou avanços no tempo serão necessários a fim de verificar de que maneira as imagens que se construíram sobre determinados aspectos adquiriram características próprias e, como elas remontam à períodos anteriores, conseguindo chegar até épocas posteriores.
O Sertão Oeste de Minas Gerais era uma região habitada e controlada por diferentes grupos: indígenas, escravos fugidos e mestiços, quase sempre associados aos vadios que eventualmente travavam sérios conflitos pela posse da terra. Mas havia também um espaço de convivência entre eles. Não só etnias diferentes disputavam entre si estas áreas. A disputa podia ser vista também entre os diversos grupos indígenas, utilizando-se claramente de um sistema de alianças com outros aborígenes ou mesmo com os colonos. A presença dos vadios, ou dos que as autoridades identificavam como tal, complicava ainda mais este cenário. Tidos como salteadores dos caminhos ou simplesmente como não trabalhadores e, portanto, não pagadores de impostos, estes elementos ajudavam a desestabilizar a vida nos caminhos mineiros, já bastante complicados em função dos escravos fugidos e dos índios nada amigáveis. Assim, os conflitos internos no Sertão entre os diversos grupos propiciaram alianças variadas e forjaram inimigos.
As relações entre estes grupos podem ser percebidas em vários sentidos: tanto a cultura branca ou mestiça intervieram na cultura indígena e negra, como estas duas nas primeiras e estas alterações não foram recebidas de forma passiva. Cada um dos grupos procurou adaptar às suas condições culturais o que estava sendo introduzido. É necessário salientar que neste momento já havia quase 300 anos de contatos entre os diferentes grupos, e que, portanto, muito da cultura de cada um já estava presente no cotidiano do outro.
A situação já conflituada nos Sertões ficou ainda mais insustentável quando um outro elemento entrou em cena com mais freqüência e interesse pela área: a sociedade colonial, através de suas expedições chamadas de civilizatórias. Grupos de colonos, soldados, padres, pequenos fazendeiros, comerciantes, vadios e mineradores perceberam as potencialidades da região e também começaram a participar da disputa pelo seu controle. A instabilidade ficou patente no desencadeamento de guerras travadas contra os indígenas e contra os escravos fugitivos que viviam no sertão. Para os colonos, estes eram empecilhos a seus intentos de enriquecimento; para as autoridades, eram dificultadores do projeto civilizador que estava sendo colocado em prática em quase toda a colônia, objetivando o povoamento e desenvolvimento de determinadas regiões.
O sertão tem uma característica: a de ser uma área de fronteira, assim definida por Amado: “ ... regiões em processo de conquista e de integração à nação, onde foi comum duas ou mais culturas se encontrarem ou confrontarem...”
Assim, o Sertão é também uma fronteira interétnica, isto é, área que é transformada, por excelência, em local de trocas ou de imposições culturais de um grupo sobre o outro, e de estratégias diversas de resistências culturais e avanços desta mesma fronteira. Seja como for, o Sertão, enquanto um espaço de conflitos e disputas era, consequentemente, uma área de mortes, mas era também uma região que propiciava sobrevivências físicas e culturais quase sempre dos mais aptos tecnologicamente.
Foi justamente nesta zona de fronteira que o contato entre brancos, mestiços, escravos fugidos ou não, e índios se deu em Minas Gerais durante o século XVIII.
O Sertão em Minas Gerais pode ser identificado, dependendo da época, em várias regiões. Aqui se buscou analisar o Sertão Oeste, ou seja, a região que parte de São João Del Rei em direção à Goiás.
Entretanto, os limites temporais não estão rigidamente delimitados. O século XVIII é o momento predominante, todavia, as permanências mentais que nortearam as vidas das pessoas envolvidas, de diferentes maneiras e nas várias atividades que este trabalho busca recuperar, não permitem a reclusão em seus limites. Por diversas vezes, recuos ou avanços no tempo serão necessários a fim de verificar de que maneira as imagens que se construíram sobre determinados aspectos adquiriram características próprias e, como elas remontam à períodos anteriores, conseguindo chegar até épocas posteriores.
O Sertão Oeste de Minas Gerais era uma região habitada e controlada por diferentes grupos: indígenas, escravos fugidos e mestiços, quase sempre associados aos vadios que eventualmente travavam sérios conflitos pela posse da terra. Mas havia também um espaço de convivência entre eles. Não só etnias diferentes disputavam entre si estas áreas. A disputa podia ser vista também entre os diversos grupos indígenas, utilizando-se claramente de um sistema de alianças com outros aborígenes ou mesmo com os colonos. A presença dos vadios, ou dos que as autoridades identificavam como tal, complicava ainda mais este cenário. Tidos como salteadores dos caminhos ou simplesmente como não trabalhadores e, portanto, não pagadores de impostos, estes elementos ajudavam a desestabilizar a vida nos caminhos mineiros, já bastante complicados em função dos escravos fugidos e dos índios nada amigáveis. Assim, os conflitos internos no Sertão entre os diversos grupos propiciaram alianças variadas e forjaram inimigos.
As relações entre estes grupos podem ser percebidas em vários sentidos: tanto a cultura branca ou mestiça intervieram na cultura indígena e negra, como estas duas nas primeiras e estas alterações não foram recebidas de forma passiva. Cada um dos grupos procurou adaptar às suas condições culturais o que estava sendo introduzido. É necessário salientar que neste momento já havia quase 300 anos de contatos entre os diferentes grupos, e que, portanto, muito da cultura de cada um já estava presente no cotidiano do outro.
A situação já conflituada nos Sertões ficou ainda mais insustentável quando um outro elemento entrou em cena com mais freqüência e interesse pela área: a sociedade colonial, através de suas expedições chamadas de civilizatórias. Grupos de colonos, soldados, padres, pequenos fazendeiros, comerciantes, vadios e mineradores perceberam as potencialidades da região e também começaram a participar da disputa pelo seu controle. A instabilidade ficou patente no desencadeamento de guerras travadas contra os indígenas e contra os escravos fugitivos que viviam no sertão. Para os colonos, estes eram empecilhos a seus intentos de enriquecimento; para as autoridades, eram dificultadores do projeto civilizador que estava sendo colocado em prática em quase toda a colônia, objetivando o povoamento e desenvolvimento de determinadas regiões.
Trecho de um trabalho de Marcia Amantino.
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