Após o extermínio do Grande Quilombo, na região do Campo Grande, bem como do quilombo conhecido por Cascalho, situado na região da serra de Três Pontas (MG), iniciou-se o povoamento da região, com mais intensidade. Várias sesmarias foram concedidas e cresciam as fazendas de plantadores de cana, cereais e criadores de gado. Entretanto, grande número de quilombolas, que haviam sendo dispersos dos vários quilombos da Picada de Goiás, se instalaram à esquerda do Rio Grande e nas proximidades dos Rios Verde e Sapucaí, em ambas as margens.
Moradores e proprietários de terras não aceitavam a existência dos quilombos, em virtude dos constantes ataques e roubos por eles praticados. Pediram providências às Câmaras de São João Del Rei e São José (hoje Tiradentes), a fim de acabar que esses moradores, considerados como indesejáveis pelos brancos. Com auxilio financeiro das Câmaras citadas acima, foi organizada uma expedição punitiva aos quilombos da região do Sapucaí. Comandados pelo experiente Capitão Bartolomeu Bueno do Prado, coadjuvado pelos seus cunhados (e primos) Capitão-Mor Diogo Bueno da Fonseca e Manuel Francisco Xavier Bueno, sertanistas experimentados, iniciaram a marcha em busca dos quilombos. Os filhos de Diogo Bueno da Fonseca e de Manoel Francisco Xavier Bueno, bem como seus agregados, os acompanharam na empreitada. Junto à tropa, agregou-se Antônio Francisco França, atuando também como cartógrafo, ao que parece, e ainda o Sargento-Mor Felipe Antônio Burem.
Partiram os expedicionários do Arraial dos Buenos, na freguesia de Lavras do Funil, com 400 homens, dividiram-se em grupos, a fim de liquidar de vez os quilombolas. Deslocaram-se para Lavras do Funil e de lá iniciaram a viagem, no dia 27 de agosto de 1760. Atacaram e destruíram o chamado Quilombo Queimado. Em 30 de setembro chegaram à Boa Vista. Segundo os relatos do escrivão da expedição punitiva, foi elaborado o mapa da localização dos quilombos do Campo Grande(1), consignando os nomes pelos quais esses povoamentos eram conhecidos.
Em 3 de outubro de 1760 chegaram ao quilombo das Araras, que no mapa é denominado de Quebra-Pé. No percurso atravessaram um ribeirão, ao qual deram o nome de Ribeirão das Araras. As nascentes desse Ribeirão estão nas proximidades bairro Santana e, seguindo seu curso, corta cidade e continua em direção ao povoado a que nos referimos, até desaguar no Rio Sapucaí, hoje Represa de Furnas, nas cercanias, mas na margem oposta a cidade Fama. Esse Ribeirão é que deu origem ao nome de Quilombo das Araras, já no Século XIX. Foram encontradas 80 casas. Mas voltemos ao relato.
Partiram os expedicionários em direção ao povoado dos aquilombados. Ali havia também pretos livres e mesmo brancos foragidos da justiça. A soldadesca chegou sorrateiramente, mas os cães deram o alarme e imediatamente começaram os combates. A batalha deve ter sido renhida, pois os soldados deveriam destruir o povoado e prender os quilombolas e devolvê-los aos seus senhores. Havia um prêmio, chamado tomadia, pela captura de cada fugitivo, mas se resistiam havia a luta e mortes. Pelos mortos, a tomadia era menor. Dos mortos decepavam-lhe as orelhas ou as cabeças e as colocavam em tinas com sal, o que tornava o transporte muito difícil. A fim que o prêmio fosse recebido pelos expedicionários. De um lado a tropa bem armada, com espingardas, garruchas e outras armas mais poderosas, de outro, os quilombolas com facões, flechas e lanças feitas de madeira, às vezes com ponteiras metálicas. Os negros seminus; os soldados bem protegidos com uma espécie de couraça ou armadura, confeccionada em couro cru, de boa resistência às flechas e lanças, que se chamava escupil, Na cabeça um capacete do mesmo material. Os expedicionários tinham víveres, pólvora e eram bem alimentados. A luta era desigual! O massacre inevitável! Os prisioneiros marcados a ferro em brasa com a letra F (fugido). Estava destruído o quilombo para sempre! O sonho da liberdade se esvaiu em sangue e morte!
Não obstante a luta desigual, os remanescentes dos aquilombados, nem todos negros, continuaram no local . Cunha Matos, em sua Corografia Histórica da Província de Minas Gerais, às páginas 120 a 122 (Ed.Itatiaia ,ed.1981) cita a existência de 48 fogos e 391 almas no povoado. Nesse total não inclui a região das Araras com 74 fogos e 411 almas. O Livro foi escrito antes de 1837. Esta é reedição. Na memória dos habitantes da região, ficou para sempre o nome QUILOMBO! O ser humano é gregário. Os que conseguiram fugir voltaram para suas antigas moradas, reconstruíram seus casebres Outros moradores foram chegando ao povoado, fazendas foram implantadas. No início do Século XIX 48 casas já haviam sido reconstruídas: 39l moradores lá se instalaram. A convivência das raças começava a ser pacífica.
O Sr. Joaquim Vieira Marques, proprietário de uma fazenda denominada Quilombo, doou um terreno para constituir o patrimônio da igreja do arraial, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário do Quilombo, que ele mesmo mandou edificar. Em 6 de dezembro de 1882 o povoado é elevado a Distrito, formado pelo Quilombo e o nascente povoado de Pontalete, situado na confluência dos Rios Verde e Sapucaí. Este último era um porto fluvial e, no início da década de 1890, uma estação ferroviária, que atendia também as cidades de Paraguaçu e Eloi Mendes. Infelizmente O Sr. Marques Vieira morreu antes da elevação do povoado a Distrito. Faleceu em 1880.
Na tentativa de se fazer esquecer o passado, as autoridades mudaram o nome do Distrito para Martinho Campos, apesar de já existir outra localidade com o mesmo nome. Tal providência não foi suficiente para que o passado fosse esquecido. Pois ainda hoje todos nós trespontanos e moradores do município, ao nos referirmos a Martinho Campos, dizemos: “Hoje eu vou ao Quilombo”.
“A festa do Quilombo estava animada”
Mudaram a sede do Distrito para Pontalete. A recuperação do povoado vem sendo gradativa. Hoje tem algumas ruas asfaltadas, água e esgoto e uma Escola Agrícola, nas proximidades, proporcionando aos jovens da zona rural a oportunidade de estudarem e aprimorar seus conhecimentos das lides agropecuárias.
A igreja de Nossa Senhora do Rosário merece um carinho todo especial e necessita urgentemente de uma restauração, deveria ser objeto de tombamento. Arqueólogos poderiam realizar trabalhos de pesquisas nos sítios da região, possivelmente achariam vestígios comprovando a existência, costumes e modo de vida daqueles habitantes.
Felizmente os habitantes de Martinho Campos, o nosso querido Quilombo, estão recebendo os títulos de propriedade de suas casas.
Três Pontas,18-mar-2008
Próxima matéria: Amélio Garcia de Miranda o guardião da história.
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Comentários
Pai Supremo, que os dons do AMOR CRÍSTICO e do PERDÃO estejam presentes em todos os corações. Que a MÃE de Jesus- Cristo possa ser a guardiã dessa preciosidade.
Paulo Costa Campos não abriu mão do trabalho. Parabéns.